“Meu tio morreu de tristeza”. Este foi um dos depoimentos de Geovani Krenak fez durante a apresentação da mesa temática, Lutas em defesa da água: caso Correntina e Bacia do rio Doce, realizado na quarta-feira (14) pelo MAB, Movimento dos Atingidos por Barragens, no Fórum Social Mundial, em Salvador.
Geovani é liderança indígena e pertence ao território do povo Krenak, localizado no município de Resplendor, Vale do Rio Doce, no sudeste de Minas Gerais, quase na fronteira com o Espírito Santo. Depois que o rio Doce, Watu, como os Krenak denominam, foi contaminado pela lama de rejeitos causado pelo rompimento da barragem da Samarco em novembro de 2015, os indígenas anciões não conseguiram superar a dor de ver o rio morrer.
“Devido a contaminação estamos há dois anos sem poder fazer nossos rituais sagrados e os indígenas mais velhos foram os que mais sentiram o impacto, eles não conseguiam assimilar a perda do rio”, diz.
A apresentação da oficina tem como objetivo debater e trocar experiências sobre os impactos socioambientais causados por empreendimentos de barragens para geração de energia elétrica ou de mineração e conflitos sociais em torno da disputa hídrica, como é o caso de Correntina.
De acordo com Andreia Neiva, da coordenação nacional do MAB, o município encontra-se no oeste da Bahia, região com grandes extensões de terras aráveis e ricas em recursos hídricos, o que atraiu empresas transnacionais, um dos relatos ela denunciou que o consumo de água para irrigar uma fazenda poderia abastecer a população de Correntina.
“A fazenda Alvejada conseguiu do governo do estado uma autorização para usar diariamente 106 milhões de litros de água, essa água é suficiente para abastecer a população da cidade de Correntinha por mais de um mês”.
O conflito entre grandes proprietários de terras e a população local se estende por cerca de 40 anos e ganhou projeção nacional ano passado, quando mil pessoas denunciaram a exploração predatório da água e ocuparam as fazendas Igarashi e Curitiba, no distrito de Rosário.
Após as apresentações dos relatos das lideranças e participantes Neiva avalia que a organização coletiva “com coragem e ousadia” seja o caminho para o enfrentamento.
Outra atividade realizada pelo MAB durante o Fórum Social Mundial será a exibição do filme Jirau e Santo Antônio: relatos de uma guerra Amazônica agendado para a quinta-feira, dia 15, às 17:30 no PAF I, sala 205.
Edição: Juca Guimarães