Após repressão truculenta da PM contra professores, servidores públicos da capital paulista voltaram a se manifestar nesta quinta-feira (15). Cerca de 80 mil pessoas participaram, em frente à Câmara Municipal, de um ato contra a reforma da previdência proposta pelo prefeito João Doria (PSDB), conhecida como SampaPrev.
A paralisação, que começou com a greve dos professores há uma semana, cresceu e agora atinge integralmente pelo menos três setores: educação, assistência social e a vigilância sanitária. Outras áreas também aderiram parcialmente à greve, como os profissionais da saúde.
Esse é o caso do servidor Marcos Vinícius, que trabalha em uma Unidade de Vigilância em Saúde (UVIS) em Cidade Ademar, bairro periférico localizado na zona sul de São Paulo.
Ele ressalta que o movimento abrange todas as categorias de funcionários públicos: "Nossa unidade está fazendo só o serviço emergencial obrigatório por lei, de resto estão todos parados", relata.
Os servidores são contrários ao Projeto de Lei (PL) 621/2016, conhecido como SampaPrev que propõe aumentar a contribuição previdenciária municipal para até 18,2%. Eles pedem a retirada imediata do projeto de reforma da previdência municipal.
"É como se fosse um assalto. Por capricho de um gestor que ainda disse que vai largar tudo. O que a gente sabe é que nosso direito conquistado está sendo assaltado", disse o servidor em referência à saída do tucano para concorrer as eleições deste ano para governador do estado do São Paulo.
O ato foi convocado no mesmo horário que a audiência pública sobre o SampaPrev. Com milhares de servidores em frente à Câmara, o auditório em que a reunião foi realizada comporta apenas 400 pessoas.
Enquanto aguardava informações sobre a audiência, a professora Renata Maria Costa, do Centro Educacional Unificado (CEU) Vila Atlântica, denunciava com cartazes nomes de vereadores da base governista que apoiam o projeto encaminhado à Câmara por Doria.
"O objetivo é fazer um manifesto para pressionar para que os vereadores não votem a favor desta pauta. Se votar, eles não vão ser eleitos. Pela rede municipal de educação, não", reiterou.
Projeto eleitoral
Sérgio Antiqueira, presidente do Sindicato dos Servidores Municipais de São Paulo (Sindsep), avalia que a rapidez com que a tramitação do PL ganhou força na Câmara tem relação com pretensões eleitorais do prefeito João Doria (PSDB).
"Eles fazem essas figurações para criar um clima de democracia, mas é mentira. Ele quer aprovar o PL até o final de março para ele sancionar até 7 de abril, quando sai do cargo. Ele quer dar uma sinalização para os bancos, para o mercado financeiro e para a imprensa golpista que queria a reforma do Temer que ele é capaz de fazer e o Temer não", acusou o dirigente.
Para a vereadora Juliana Cardoso (PT), o PL expressa a municipalização da política econômica golpista. "Ele [Doria] tem intenção política sim. Ele quer mostrar pro mercado e mostrar para o neoliberalismo que ele está apto a ser candidato", afirmou a petista.
Cardoso afirma que, se aprovado, o projeto vai prejudicar os serviços essenciais da cidade.
"A gente não pode deixar que 50 vereadores da base governista que têm salários imensos que são da iniciativa privada tirem valores de 14% a 19% dos funcionários públicos. A gente tem que resistir porque a instituição está perversa, dura."
Ela repudiou ainda a ação da PM nesta quarta, que reprimiu violentamente servidores que acompanhavam a votação do SampaPrev na Comissão de Constituição, Justiça e Legislação Participativa. "A barbaridade que teve ontem na Câmara Municipal com os servidores públicos e professores é um escárnio, um absurdo. Eles são canalhas."
Durante o ato, os servidores públicos municipais lamentaram a violência policial contra professores e homenagearam com um minuto de silêncio a vereadora Marielle Franco (Psol), executada a tiros nesta quarta-feira (14) no Rio de Janeiro.
Edição: Mauro Ramos