A homeopatia é um método terapêutico criado pelo médico alemão Samuel Hahnemann no final do século XVIII. Baseia-se em dois princípios: de que uma substância que origina um sintoma é capaz de curá-lo; e de que quanto mais diluída essa substância for, mais forte será o seu efeito de cura.
Muito difundida em todo o mundo, a homeopatia é foco constante de acalorados debates. Seus defensores não cansam de apontar exemplos de sua eficácia no tratamento de diversas doenças. Mas, o que a ciência diz a respeito? Os estudos científicos mais rigorosos sobre o tema concluíram até o momento que a homeopatia não possui efeito para além do placebo. Foi o que afirmaram, por exemplo, comitês científicos do Reino Unido (em 2010) e da Austrália (em 2015).
O efeito placebo acontece quando algo (uma técnica ou substância) usado como tratamento produz um resultado biológico efetivo sem que isso tenha relação com o seu princípio real de funcionamento. Ou seja, a coisa cura, mas não pelos motivos que diz curar, e sim por convencer de que é capaz de curar.
Com a homeopatia acontece dessa forma. As pessoas que a utilizam podem efetivamente melhorar. Mas, isso não se deve à homeopatia em si, e sim a autossugestão e a outros fatores psicossociais envolvidos na terapia (por exemplo, o carinho e a atenção desprendidos pelo homeopata, geralmente bem superiores à média dos médicos convencionais).
Para além da falta de resultados nos testes, há outro grande problema por trás da homeopatia, de natureza teórica. Seu princípio, de que quanto mais diluído mais potente um medicamento é, faz com que, na prática, a diluição seja tamanha que não reste nenhuma molécula da substância no medicamento. Ou seja, ao tomar um remédio homeopático a pessoa ingere apenas água.
O argumento que a homeopatia apresenta então é que a água é capaz de reter uma memória (ou energia) daquela substância em suas moléculas. Tal mecanismo jamais foi suficientemente explicado, o que torna essa hipótese frágil.
Uma das mais belas características da ciência é a sua capacidade em admitir o erro. Aceitar que seu conhecimento é limitado e deve estar sempre aberto à novas descobertas. Negar essa bonita lógica científica de ver o mundo, insistindo que aquilo em que acreditamos é real, mesmo quando as evidências demonstram o contrário, é apostar em caminhos que a história já demonstrou não serem seguros.
*Renan Santos é professor de biologia da rede estadual de Minas Gerais
Edição: Joana Tavares