Em coletiva de imprensa realizada nesta segunda-feira (19), em Brasília, ambientalistas, movimentos populares e outras entidades reafirmaram a importância da luta pela preservação das águas e contra as diferentes formas de privatização do recurso. A atividade foi destaque na programação desta segunda do Fórum Alternativo Mundial da Água (Fama), que se estende até a próxima quinta-feira (22).
Os organizadores ressaltaram que o avanço de grupos econômicos sobre a captação dos recursos hídricos faz com que o acesso à água seja fortemente marcado pela desigualdade social. A militante Mazé Moraes, da coordenação da Marcha das Margaridas, salientou que nas comunidades rurais, por exemplo, as mulheres são as mais penalizadas pela dificuldade de acesso ao recurso.
A dirigente aponta que são elas as principais responsáveis pela busca da água para as famílias, e o trabalho costuma ser marcado por grandes percursos e alto desgaste físico.
“Nós que moramos no campo sabemos a dificuldade que é ter que andar quilômetros e quilômetros atrás de um galão d’agua pra fazer a alimentação. Não é nem pra tomar banho, porque muitas vezes [as pessoas] ficam dias sem conseguir banhar por falta d’agua”, desabafa.
Os povos indígenas também estão entre os grupos mais afetados. O dirigente Alberto Terena, da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), ressalta a preocupação com as ações do agronegócio, que poluem fortemente as águas e trazem diversos danos ao meio ambiente e às populações. Na contramão dessa tendência, as comunidades indígenas alertam a sociedade para a importância de preservar os recursos naturais.
“É possível nós estarmos em harmonia com a natureza, e é um risco muito grande pra humanidade quando isso não acontece”, assinala.
O dirigente Biko Rodrigues, da Coordenação Nacional de Quilombolas (Conaq), afirma que a disputa pela água caminha lado a lado com a luta pela demarcação dos territórios tradicionais dos quilombolas. Segundo a entidade, mais de 6 mil comunidades aguardam reconhecimento das suas terras no Brasil. Ao todo, são 16 milhões de pessoas.
Sem a homologação dos territórios, os quilombos têm maior dificuldade de acessar os recursos hídricos, que, em geral, são dominados por fazendeiros. Rodrigues pontua que a regularização das áreas é fundamental para garantir a preservação das águas.
“A gente necessita que os territórios estejam regularizados pra que a gente possa fazer aquilo que já nós estamos fazemos há gerações, que é sermos guardiães da biodiversidade e de toda essa riqueza que temos no país”, afirma.
Fama 2018
O Fama ocorre neste período como contraponto ao Fórum Mundial da Água (FMA), evento de caráter corporativo que reúne governos, entidades e grandes empresas. No primeiro, a proposta é articular diferentes grupos que atuam em defesa da água para debater e pensar ações de combate ao avanço da privatização dos recursos hídricos.
Entre os participantes, estão movimentos populares, sindicatos e especialistas. O evento deve se encerrar com a construção de uma plataforma com encaminhamentos relacionados a diferentes temas.
“Por ser um evento dos povos, nós acreditamos que toda essa construção social e coletiva deve ser aproveitada porque as grandes transformações se dão na mobilização popular, coletiva, plural e radicalmente democrática”, destaca o ambientalista Thiago Ávila, da organização do Fama.
Edição: Nina Fideles