A Sabesp, estatal de saneamento e distribuição de água do governo de São Paulo, é uma das patrocinadoras do 8º Fórum Mundial da Água (FMA), que acontece em Brasília até o dia 23 de março. No auge da crise hídrica que atingiu todo o estado paulista entre os anos de 2014 e 2016, a Organização das Nações Unidas (ONU) culpou a empresa e o governador do estado, Geraldo Alckmin, de omissão e falta de comunicação com a população sobre o tamanho da crise.
Questionado pela reportagem do Brasil de Fato se a condenação das Nações Unidas manchava a reputação da empresa, o governador e pré-candidato à presidência da República pelo PSDB, Geraldo Alckmin, que participou de uma mesa sobre gestão dos recursos hídricos no FMA na última terça-feira (20), disse que a afirmação é “improcedente”.
“A Sabesp é uma empresa extremamente aberta e a população teve uma resposta maravilhosa em São Paulo. Rapidamente conseguimos equacionar uma seca que foi a maior dos últimos 100 anos”, acredita.
A presidente da companhia à época, Dilma Pena, chegou a pedir dispensa do cargo, após o vazamento de áudios de uma reunião em que ela afirmava que superiores da empresa pediram que a Sabesp não alertasse a população sobre a falta de água. "'Cidadão, economize água'. Isso tinha de estar reiteradamente na mídia, mas nós temos de seguir orientação, nós temos superiores, e a orientação não tem sido essa. Mas é um erro”, afirma Pena na gravação.
Em entrevista exclusiva ao Brasil de Fato, o ex-presidente da Agência Nacional de Águas (ANA), Vicente Andreu, que acompanhou de perto a crise hídrica paulista, explica que “o que aconteceu em São Paulo foi uma retirada completa da autonomia dos órgãos gestores da Sabesp”.
“As questões gerais [da crise] já estavam visíveis no começo de 2014. Há diversos trabalhos apresentados pela Sabesp que são uma vergonha do ponto de vista técnico, impedindo que a gente [ANA] tomasse as medidas com mais antecedência”, afirma.
Geraldo Alckmin era o candidato à reeleição do governo paulista em 2014 - ganhou no primeiro turno com 57,3% dos votos - e segundo Andreu, este foi um dos motivos da omissão sobre os dados da crise para a população do Estado. "A orientação geral era de natureza política. Por exemplo, se falava em redução de pressão, que implicava concretamente em um racionamento de água. Jamais o governo do Estado de São Paulo assumiu publicamente que as pessoas na linha daquela rede, quase sempre pobres, estavam enfrentando racionamento. A condução da crise em São Paulo obedeceu exclusivamente os interesses eleitorais de 2014", ressalta.
O governo de São Paulo atribui ainda à gestão da estatal a retomada dos níveis dos reservatórios de São Paulo, entre eles o Cantareira, o principal fornecedor de água para a região metropolitana. No auge da escassez de água, o reservatório chegou a ter apenas 3,3% de sua capacidade. Para o ex-presidente da ANA, no entanto, o período chuvoso de 2015 foi a solução para a falta de abastecimento do estado.
"Se trabalhou muito no sentido de esconder a dimensão da crise e depois, com a chegada das chuvas no final de 2015 para 2016, houve a venda de uma solução, dizendo que a crise tinha acabado por conta da competência, do que foi feito, isso também não é verdade. Isso é ruim como mensagem para as pessoas. O que aconteceu é que felizmente houve chuvas”, reforça.
Além da estatal de São Paulo, o Governo do Distrito Federal (GDF), que também enfrenta, desde janeiro deste ano, uma grave crise de abastecimento, injetou grande aporte de recursos para a realização do Fórum Mundial da Água. Empresas como a Ambev, a Coca-Cola e a Nestlé, interessadas na gestão do recurso, também estão presentes entre os patrocinadores do evento.
Edição: Nina Fideles