O Brasil à luz de velas foi um reflexo do anacronismo que vivemos diante da ameaça de privatização do setor elétrico estatal. Nos idos de 2001, a população brasileira sofreu com os apagões do governo de FHC. No dia 21, o norte e nordeste do país reviveram a tormenta e se encontraram numa situação de completo blecaute.
E neste mês que lentamente vence os dias – o tempo é relativo, Einstein nos disse. A dona de casa perdeu a novela, as crianças foram dormir cedo, o pequeno comércio da esquina parou de vender, trabalhadores e trabalhadoras, com cansaço acumulado da jornada ficaram presos em engarrafamentos colossais, a comida se perdeu na geladeira desligada. Às claras somente a irresponsabilidade de uma das grandes companhias privadas do mercado energético.
Um trânsito caótico, problemas na comunicação, escolas, institutos e universidades prejudicados, hospitais, postos de saúde, delegacias, comércio e fábricas às escuras por causa de um teste de serviço, em horário indevido, da empresa chinesa State Grid, que é uma das principais interessadas na privatização do setor.
Enquanto o Brasil fala em privatização do setor elétrico os britânicos querem a reestatização dos serviços essenciais, 77% desejam a nacionalização da eletricidade. O Estado Mínimo se provou um obstáculo para o bem-estar social. O Brasil parece insistir no erro.
Não bastando a privatização forçada pelo atual (des)governo ser imperativa quanto ao rombo no bolso do povo - em curto prazo no boleto mais próximo serão visíveis os efeitos da privatização- ela também se apresenta como maneira de reduzir os ganhos do país, pois ignora a receita gerada pela Eletrobras e a capacidade de aumento dos lucros públicos, revertidos para o Brasil.
O momento é para nos atentarmos às circunstâncias em que o transtorno da falta de energia, causada por um erro da empresa privada e estrangeira que mantém o controle de uma parte da transmissão, se coloca para o povo brasileiro. As tantas informações noticiadas pela mídia não deram respostas claras do que realmente aconteceu.
Conforme a nota oficial do Coletivo Nacional de Eletricitário (CNE), “O problema se deu na Subestação Xingu, na saída do bipolo CC da Belo Monte Transmissora de Energia - BMTE que ao contrário do que se chegou a afirmar não pertence à Eletronorte e não é em Tucuruí. Segundo se apurou, foram durante testes na linha de transmissão que transmitia 4GW de carga houve, e que após uma falha, a linha acabou saindo de serviço, provocando uma reação em cadeia”. A subestação é controlada pela State Grid.
Traçar um paralelo entre o mau serviço e a possível privatização são oportunos para o diálogo com os consumidores, para mostrar a realidade precária que é ofertada pelo neoliberalismo. A Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) alerta para o fato de que o modelo adotado para a desestatização pode gerar aumento inicial de cerca de 17% na conta de energia repassada ao consumidor. Além de que com a privatização a “tarifa social”, que concede benefícios às famílias de baixa renda, não mais será utilizada. Não bastasse também o fato de que o serviço sofrerá uma queda na qualidade, vide o apagão de ontem.
O setor elétrico estatal é ponto estratégico para o desenvolvimento do país, para as indústrias nacionais de base, para o controle, por exemplo, da vasão dos rios utilizados na geração de energia. A soberania nacional, portanto, está em risco com a privatização da Eletrobras. O controle deste recurso não pode ser do capital internacional, pois isso faria com que o Brasil ficasse a mercê dos interesses estrangeiros.
Pagar o preço da eletricidade privada é vender o país a preço de banana. O blecaute causado pela State Grid é apenas uma amostra grátis do que significa o setor elétrico sendo controlado por empresas estrangeiras, essas que não têm qualquer comprometimento com o desenvolvimento do país.
* Tiago Di Lucas é estudante de jornalismo da UFAL e militante do Levante Popular da Juventude
Edição: Luiz Felipe Albuquerque