FMA

Fórum Mundial da Água chega ao fim sem deixar legado

Para Gerardo Vega, da ActionAid Brasil, o espaço é dedicado à privatização e mercantilização da água

Brasil de Fato | Brasília (DF) |

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Encerramento teve premiação e agradecimento a patrociandores
Encerramento teve premiação e agradecimento a patrociandores - Divulgação/ Fórum Mundial da Água

Chegou ao fim, nesta sexta-feira (23), a 8ª edição do Fórum Mundial da Água (FMA), com a participação de mais de 85 mil pessoas de 172 países circulando entre o Centro de Convenções Ulysses Guimarães e o Estádio Mané Garrincha, em Brasília (DF). A impressão de quem acompanhou o evento, no entanto, é de que o FMA não deixará legado relevante para a gestão da água.

O evento, organizado pelo Conselho Mundial da Água e patrocinado por empresas como Ambev, Nestlé e Coca-Cola, estava dividido em sessões temáticas - 300 ao todo -, que discutiram experiências de gestão da água pelo mundo. Muitas destes espaços foram tocadas pelas próprias patrocinadoras interessadas na exploração do recurso natural.

Gerardo Vega, da ActionAid Brasil, está à frente da Campanha Nacional em Defesa do Cerrado e acompanhou uma série de atividades do Fórum. Para ele, o FMA não muda e não questiona o que está sendo feito em relação à água no planeta.

“O que a gente vê aqui é um paradigma que privilegia o mercado, a privatização, a precificação da água como um bem econômico, que é escasso e portanto tem que ser gerido a partir de um critério mercantil”, destacou.

O FMA também contou com a participação da Agência Nacional das Águas (ANA). Em entrevista exclusiva ao Brasil de Fato, Vicente Andreu, ex-presidente da Agência durante a formulação inicial do evento, apontou a necessidade de democratização destes espaços.

"Esses fóruns foram montados pelas grandes corporações de água no mundo, isso é real, é fato. No início, o Fórum Mundial da Água era um fórum de negócios. Com o passar do tempo, com a democratização do próprio Fórum Mundial da Água, com o fracasso de muitas políticas de privatização mundo à fora, o Fórum deixou de ter o caráter inicial que tinha".

Contraponto

Vega lembrou que, há poucos quilômetros dali, no pavilhão de exposições do parque Sarah Kubitschek, o cenário era bem diferente. O local sediou o Fórum Alternativo Mundial da Água (FAMA), que aconteceu paralelamente ao FMA.

"Os atores que participam de um e outro evento são bem diferentes. Aqui [Fórum Mundial da Água], você tem corporações, organismos multilaterais, ministérios, dependências públicas, empresas e a academia. [No FAMA], a gente pode ver outras concepções que vem à tona, que reconhece a água como direito humano, como serviço social essencial, e que também reconhece as outras dimensões da água".

O FAMA foi organizado por movimentos populares como o Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), além de organizações ambientais, centrais sindicais, entre outros. O evento se encerrou na quinta-feira (22), em uma grande marcha por ruas da capital federal e uma ação de denúncia contra a empresa Coca-Cola.

Edição: Thalles Gomes