A comunidade negra argentina realizou uma ação na frente do Congresso da Nação, em Buenos Aires, capital do país, para cobrar do Estado sua dívida histórica com esta população historicamente invisibilizada e excluída. A atividade aconteceu na última terça-feira (20), um dia antes do Dia Internacional de Luta pela Eliminação da Discriminação Racial.
No mesmo dia, foi apresentado no Senado argentino um Projeto de Lei para criação do Instituto Nacional de Assuntos Afro-argentinos, Afrodescendentes e Africanos (Inafro). Durante a apresentação da proposta, representantes das organizações sociais e culturais negras expuseram as razões para a defesa da criação do instituto.
Na ocasião, os membros da comunidade compartilharam fragmentos cotidianos de suas vidas, marcadas pelo racismo histórico e estrutural que atravessa a história argentina. Também contou com a presença de representantes do Centro de Estudos Legais e Sociais (CELS) e de alguns senadores, entre eles, a senadora Sigrid Kunath (militante peronista e integrante do bloco Frente para a Victoria), responsável pela apresentação do projeto.
Além disso, foi apresentado o relatório específico sobre a Argentina criado pelo Comitê Internacional para a Eliminação da Discriminação Racial (CERD) da Organização das Nações Unidas (ONU).
Atualmente, nota-se que a Argentina mantém seu mito fundador, o de que saiu dos barcos europeus: branca, católica e inclusiva. A construção social e cultural pela qual passou o país é a que conseguiu estereotipar e invisibilizar a presença negra e as contribuições dessa população à cultura e à constituição do Estado nacional.
E, ainda hoje, a negação e o eurocentrismo são marcantes, a ponto que as comunidades de negros e negras relatam continuar ouvindo que "na Argentina não tem negros". Também ouvem perguntas como: "de que país você é?" e "de onde você veio?".
Imigrantes
Na mesma atividade, representantes de organizações de imigrantes de Cabo Verde e do Senegal compartilharam depoimentos sobre suas realidades no país, em uma luta diária contra o racismo das instituições do Estado argentino: desabrigados e reprimidos nas ruas e invisibilizados pela burocracia.
O tratamento violento do Estado argentino à comunidade negra culminou, em 2016, no assassinato de Massar Ba, militante senegalês. Até hoje, exige-se a investigação do caso.
A comunidade negra aponta que tenta combater esta invisibilidade por meio de propostas como a de criação do Inafro, que permitirá o desenvolvimento de políticas públicas transversais. Promover os direitos da população negra na Argentina não é uma questão apenas histórica, é também uma questão atual. A inclusão das contribuições da população negra para a cultura e a identidade nacional no currículo escolar é outra dívida pendente, como afirmam os participantes da ação.
Edição: Marcha Notícias | Tradução: Luiza Mançano