MORADIA

Ocupação Marielle Franco nasce no centro do Recife

Organizada por mulheres, a ocupação foi nomeada de Marielle Franco, em homenagem a vereadora executada no RJ

Recife (PE) |
O foco é o direito à moradia, mas a luta também é por políticas públicas eficazes para as mulheres
O foco é o direito à moradia, mas a luta também é por políticas públicas eficazes para as mulheres - Rani de Mendonça

Mulheres do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) ocuparam o antigo edifício SulAmérica, localizado na Praça da Independência, área central do Recife. São quase 200 famílias em busca da efetivação do seu direito à moradia. O movimento reivindica para que seja efetiva a função social da propriedade e pede pela desapropriação do imóvel, sem uso há mais de 20 anos, e com dívida ativa de débitos de Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU) que somam R$1,6 milhão. O edifício está enquadrado na Lei n° 16.284/1997, que define os imóveis especiais de preservação (IEP), situados no município do Recife, estabelecendo as condições de preservação.

Segundo a coordenadora estadual do MTST, Jô Cavalcanti, esta é a primeira ocupação vertical do movimento, em Recife, e que existe a necessidade de trazer para o centro da cidade o debate em torno da moradia. “Sempre nos colocam para fora da cidade. O centro é local onde se trabalha e onde se resolvem as coisas, porque também não é nosso espaço para morar? O poder público deixa esses prédios abandonados e devendo aos cofres públicos e um monte de família sem ter onde morar. Temos notícias de uns 25, só aqui no Recife”, ressalta.

Organizada pelas mulheres, a ocupação é parte da agenda nacional de Março do MTST, que tem como foco a reivindicação por moradia e também por políticas públicas eficazes para as mulheres, como a ampliação dos números de casas de acolhimentos, creches e outros serviços. A ocupação foi nomeada de Marielle Franco, em homenagem à vereadora do PSOL que foi executada no Rio de Janeiro. “É uma pauta urbana e todo mundo da sociedade tem que ficar sabendo disso. Estamos aqui denunciando essa questão, porque é um prédio abandonado que deve aos cofres públicos acima do que esse prédio custa. E que, com esse dinheiro, podíamos ter mais investimentos nos serviços públicos”, conta Jô.

Para Carla Bianca de Barros, 20 anos, que está ocupada junto com sua filha de três anos, a ocupação significa a esperança de ter uma casa para morar. “Eu cheguei até aqui porque minha mãe me levou para a comemoração de 20 anos do MTST e ouvi um depoimento da vida de uma companheira que conseguiu uma casa. Vim porque também estou precisando da minha para morar com minha filha”, diz.

A militante Sandra Pereira mora há mais de um ano na ocupação Carolina de Jesus, que fica no Barro, zona Sudoeste do Recife e agora está como apoio às mulheres ocupadas na Marielle Franco. “Estamos aqui para dar um reforço às companheiras, porque a gente sabe a dificuldade que é não ter casa. Meu sonho é ter a minha também e poder morar com meu filho e meus netos”, conta.

As ocupantes não foram procuradas por nenhum representante do estado, nem dos proprietários do imóvel. “Até aqui só chegaram alguns policiais para saber se a gente vai fazer algum ato até o Palácio das Princesas. Respondemos que não, que vamos continuar ocupadas e tentando pressionar o poder público para receber a comissão das mulheres para negociação”, conta a coordenadora Jô Cavalcanti.

Os primeiros passos da ocupação já foram dados, estão com uma campanha para arrecadação de alimentos, roupas, fraldas para as crianças e colchões. “A campanha é um processo para pedir apoio à sociedade para ajudar na manutenção das famílias que estão aqui. A luta desse momento é desapropriar esse prédio para virar moradia para o povo”, diz Jo.

Edição: Catarina de Angola