A estudante Tânia Mara De Bastiani saiu de casa no sábado (24) à tarde, em Chapecó, para recepcionar a caravana Lula pelo Brasil. Atingida por um estilhaço de bomba nas costas, ela teve que deixar o ato público às pressas, antes mesmo de o ex-presidente subir ao palco. Segundo Tânia, a bomba foi lançada por opositores de Lula.
“Eu acho que as pessoas têm direito de se manifestar, desde que não coloquem em risco os outros”, disse. “A partir do momento que eles começaram a soltar as bombas em cima do pessoal, eu acredito que a polícia deveria ter dispersado esses manifestantes contrários, porque eles estavam ameaçando, de alguma forma”, defende.
Apesar da forte chuva e das dezenas de bombas e ovos arremessados contra os apoiadores de Lula, o ato na praça Coronel Bertaso reuniu cerca de dez mil pessoas e foi um dos maiores da história do município. Horas antes da chegada do ex-presidente, um grupo de professores e estudantes da etnia Kaingang juntou-se à manifestação. Eliane Café Pedroso, moradora da aldeia Condá, explica que o apoio ao petista é resultado das políticas públicas que beneficiaram os indígenas em todo o país.
“Antigamente, o povo branco não ajudava muito. Os povos indígenas eram muito maltratados, nós éramos muito desprezados. Depois que o ex-presidente Lula chegou, a nossa vida foi melhorando na comunidade, tanto na educação como na saúde”, compara.
O servidor público Cesar Capitanio também vê sua participação no ato como um gesto de retribuição. Filho de agricultores familiares beneficiados por programas de financiamento e pelos aumentos reais de salário mínimo nos governos PT, ele cursa mestrado na Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS), criada por Lula. Hoje, 92% dos estudantes, assim como Cesar, são oriundos de escolas públicas.
“Eu sempre brinco que o Lula não foi só o melhor presidente da história do Brasil. Ele foi o melhor prefeito da história de Chapecó também, do ponto de vista de executar políticas públicas e melhorar a vida das pessoas, dar acesso à habitação, ao ensino”.
Foi no governo de Lula que a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) abriu quatro novos campi – em Araranguá, Joinville e Curitibanos. Em oito anos, foram 22 novas unidades do Instituto Federal de Santa Catarina (IFSC) no interior do estado. O ministro da Educação responsável por esses avanços, Fernando Haddad, subiu ao palco em Chapecó e mandou um recado para os manifestantes que tentaram boicotar o evento:
“Não se brinca assim com a democracia. Isso aqui é uma conquista de décadas”, lembrou. “Nós saímos do regime militar, lutamos pela redemocratização, e não vamos colocar isso a perder.”
A exemplo dos demais discursos da caravana, Lula reafirmou a pretensão de se candidatar à Presidência da República em 2018. Entre as novidades do pronunciamento de Chapecó, o petista fez, diante do povo Kaingang, a promessa de priorizar a demarcação de terras indígenas no Brasil.
“Estejam certos, indígenas do país, que a gente não vai culpar vocês pela ocupação da terra de vocês”, disse. “Porque a terra era dos índios antes de chegarem os portugueses, e a gente não está fazendo o favor de demarcar a terra deles”.
O ex-presidente voltou para o hotel a pé, escoltado e abraçado pela militância. De Chapecó, a caravana Lula pelo Brasil segue para os municípios catarinenses Nova Erechim e São Miguel do Oeste. Em seguida, Lula visita o Paraná, o último dos três estados visitados nesta etapa. A jornada chega ao fim na próxima quarta-feira (28) em Curitiba.
Edição: Camila Salmazio