A agricultora Bárbara Ferreira Franco, de 28 anos, mora no pré-assentamento Dom Tomás Balduíno, em Quedas do Iguaçu (PR), a poucos metros do local onde seu marido, Leonir Orback, foi assassinado pela Polícia Militar (PM). Nesta terça-feira (27), ela foi à praça central do município para saudar a presença do ex-presidente Lula (PT) e se solidarizar com aqueles que foram agredidos ou discriminados durante a caravana pela região do sul do país.
Até hoje, não há consenso sobre os acontecimentos de 7 de abril de 2016. A PM alega que houve um conflito com troca de tiros, provocado pelos camponeses. O Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) afirma que houve um massacre a serviço da madeireira Araupel, que reivindica as terras na região.
Além de Orback, de 25 anos, outro camponês foi assassinado na ocasião: Vilmar Bordim, de 44 anos, casado e pai de três filhos. Nenhum policial foi morto.
Desabafo
Quase dois anos depois, Bárbara Ferreira Franco conversou com a reportagem do Brasil de Fato e relacionou a onda de violência registrada durante a caravana do ex-presidente com o contexto que levou à morte do marido.
“A gente sabe tudo que acontece, mas quem tem dinheiro consegue encobrir. Sempre piora, porque nunca é feita a justiça”, lamentou.
Quanto ao papel da PM, a agricultora não tem dúvidas: “Nunca é para proteger, e sim, para oprimir, deixar a gente constrangido. Eles protegem quem tem dinheiro. Quem não tem, paciência”, apontou.
A jovem viúva também denuncia a criminalização dos movimentos que se propõem a apoiar Lula durante a caravana pela região Sul. “Sempre o povo é discriminado, em qualquer lugar que vá. Lojas, lanchonetes”, exemplifica. “A gente soube que eles machucaram alguns que foram a Francisco Beltrão, e não foi feito nada. Chegaram a prender um ônibus sem motivo. Sempre cai a culpa no pessoal do MST. E não é bem assim. Quem convive e vive sabe que não é bem assim”, alertou.
É justamente devido à essa percepção da criminalização do movimento que a agricultora não posa para fotos e prefere não expor sua imagem na mídia.
Alerta
Além de Bordim e Orback, outras 59 pessoas foram assassinadas em conflitos agrários no país em 2016, ano do golpe parlamentar contra a ex-presidente Dilma Rousseff (PT). O número foi um recorde no Brasil, segundo a Comissão Pastoral da Terra (CPT), que estimou um aumento de 26% nas ocorrências em relação ao ano anterior.
Na interpretação de Bárbara, um presidente da República, sozinho, não é capaz de acabar com os conflitos no campo. Mesmo assim, ela recepcionou a caravana no seu município porque deposita em Lula a esperança de pacificar o campo e democratizar o acesso à terra: “A gente pensa que, se ele vir a se eleger, vai mudar totalmente. Ter alguém ao lado dos agricultores vai ser muito bom”, ponderou.
De Quedas do Iguaçu, a caravana do ex-presidente Lula pela região Sul segue com destino a Laranjeiras do Sul (PR) e termina com um ato público na Boca Maldita, em Curitiba.
Edição: Thalles Gomes