“É importante dizer que o filme Arpilleras para nós, mulheres atingidas por barragens, é desde a sua essência contra-hegemônico. Contra-hegemônico porque se propôs a construir uma arte que não é só entretenimento, mas uma arte que é grito, denúncia, uma arte que trata da vida do povo. Povo esse que muitas vezes não teve acesso a salas de cinema, que pela primeira vez está entrando em um cinema”. Foi com essas palavras que Marina Calisto recebeu na noite desta quarta-feira (4), o prêmio de melhor documentário nacional pelo público para o filme “Arpilleras: atingidas por barragens bordando a resistência”.
A cerimônia do 44º Festival Sesc Melhores Filmes, o mais antigo da cidade de São Paulo, ocorreu no CineSesc, localizado na Rua Augusta, na capital paulistana. A ideia do festival é premiar os melhores filmes que entraram em cartaz em cinemas da cidade de São Paulo no ano anterior. “Arpilleras” entrou na programação do Caixa Belas Artes em outubro do ano passado.
Além do longa-metragem dirigido pelo Coletivo de Mulheres do MAB, foram distribuídos outros 13 prêmios para produções nacionais e 8 internacionais. Em todas as categorias são distribuídos dois prêmios, um escolhido pelo público por meio de votação na internet e outro pelo júri especializado. Nesse ano, houve um recorde de votações: 11 mil pessoas participaram.
No prêmio do júri de melhor documentário nacional, aparece outro filme de resistência. “Martírio”, de Vincent Carelli, retrata a origem do genocídio dos Guarani Kaiowá e sua insurgência frente ao agronegócio e sua bancada no Congresso Nacional.
Ainda foram premiados os filmes Como Nossos Pais (melhor filme), Era o Hotel Cambridge (direção e melhor atriz), Joaquim (melhor fotografia), Comeback (melhor ator), entre outros. Os filmes serão reexibidos no CineSesc entre os dias 5 e 25 de abril.
“Arpilleras” ganhou duas sessões. Nesta quinta-feira (5), será exibido às 17 horas. No dia 12, às 19 horas, seguido de bate-papo. A programação completa está no site do Sesc.
Sinopse
O que une 10 mulheres de diferentes cores, religiões, culturas e geografias? Por meio de uma técnica de costura chamada “arpillera”, utilizada por chilenas para denunciar os crimes da ditadura [1973-1990] comandada por Augusto Pinochet, o documentário entrelaça histórias de mulheres atingidas por barragens no Brasil.
Foto: Guilherme Weimann
Entre as barragens retratadas, está a de rejeitos da Samarco (Vale/BHP Billiton), que estourou em Mariana (MG) e causou a morte de 19 pessoas em novembro de 2015; a hidrelétrica de Belo Monte, que atingiu aproximadamente 40 mil pessoas em Altamira (PA); o Açude do Castanhão, que serve para abastecer a região metropolitana de Fortaleza (CE) e o Porto do Pecém; as hidrelétricas de Serra da Mesa e Cana Brava, em Goiás; e a hidrelétrica de Itá, concebida ainda no período da ditadura militar.
Com a linha da costura servindo como fio condutor da narrativa, o longa-metragem percorre as cinco regiões do país. Em cada local, capta a singularidade, mas também a história coletiva de força e resistência das mulheres. O que sempre foi vista como tarefa “do lar”, a costura, transforma-se em uma ferramenta de empoderamento.
Todas são convidadas a retomarem suas memórias alagadas pela água e de narrarem, por meio de uma arpillera, sua própria história.
Edição: Redação