Resistir, defender a liberdade de Lula e lutar por eleições livres e democráticas é uma urgência que dialoga com a aspiração profunda do povo brasileiro participar da política.
A relação “líder – massas” diz um pouco da entrada incompleta do povo na política própria da formação deformada do Estado Nação como é o caso do Brasil, uma sociedade de democracia asfixiada, em que as tensões de classe transbordam a estabilidade das via institucionais e se traduzem em convulsão na busca do seu próprio patamar e tempos históricos. É importante notar que não são todos os países que forjaram uma referência de massas com capacidade de polarizar a sociedade, como Lula na história recente do Brasil.
No entanto, um líder de massas pouco pode ser se não existir uma força política disposta a travar uma batalha que que não é uma escolha mas uma exigência. No ano de 2018 é imprescindível a unidade das forças populares com clareza e coragem de travar batalhas batalhas centrais que acumulem pra estrategia da Revolução Brasileira, mesmo em caso de algumas derrotas dentro do processo.
Onde está sendo travada a batalha? No terreno Institucional. O que está interditado nesse momento de eminente prisão não é apenas a candidatura Lula e sim a via institucional para a esquerda. Não temos peças para movimentar no terreno no judiciário e mídia. Essa situação impõe uma condição de cerco e possibilidade de aniquilamento das forças populares que leva à necessidade de combinar as lutas dentro e fora da ordem para romper o cerco.
Isso quer dizer, permanecer na “institucionalidade” para não ser empurrado para clandestinidade e, ao mesmo tempo, travar batalhas nas fronteiras além do que é aceitável pela burguesia que rompe nesse momento as condições para qualquer suposta ordem democrática. Esse movimento se dá no sentido de deslocar pouco a pouco a batalha do terreno jurídico para o território das lutas populares, a rua, o trabalho de base e a mobilização popular.
Ou seja, qualificar a intervenção das forças populares na luta de classes e encontrar uma meta-síntese que corresponda as necessidades desse momento histórico, qual seja: combinar a luta institucional com a luta de massas, principalmente aquela que cria condições para um novo ciclo de ascenso da luta de massas no Brasil, a única via possível de conquistar a democracia, como participação popular efetiva.
Nesse sentido, a eleição de 2018 trava uma batalha de luta de classes. Está colocado como tarefa da resistência popular, por um lado, denunciar os aparelhos de dominação do Estado (mídia, judiciário, etc) e, por outro, não permitir que o golpe se legitime nas urnas. Os golpistas não têm o domínio absoluto do cenário, tem atuado juntos às instituições sobre as quais tem mais controle como o Parlamento e o Judiciário para obter a vitória no espaço sobre o qual eles têm menor controle, que é a disputa eleitoral e a disputa nas ruas. A burguesia segue não tendo um candidato confiável e esse é um elemento central na prisão ilegal e inconstitucional de Lula nesse momento.
As forças populares não estão sofrendo uma derrota, derrota é o que os golpistas sofrem nas urnas nas eleições presidenciais nos últimos dezesseis anos e a única maneira de reverter é com golpe. Estamos sofrendo um golpe que frauda antecipadamente a eleição de 2018 e estamos, ao mesmo tempo, diante da possibilidade de deslocar a batalha central para o terreno onde temos maiores condições de politizar o processo: a luta de massas.
O que estamos vivendo é materialização do golpe. O golpe é a retirada de direitos historicamente conquistados pela classe trabalhadora, é o desemprego; é a entrega das riquezas do país e a renúncia da soberania; o golpe é tiro na caravana Lula, é tiroteio nas comunidades cariocas é execução de Marielle, é tiro em qualquer iniciativa de trabalho de massas, é blindar territórios para que militantes não dialoguem com o povo sobre uma saída popular para a crise. A prisão de Lula é a necessidade de calar voz(es) que o povo escuta, um fantástico interlocutor, um líder de massas, coisa que os golpistas almejam e não têm a medida que não conseguem produzir um candidato que dialogue com os problemas do povo.
Ser as pernas, as vozes o coração de um líder encarnado em milhões de brasileiros e brasileiras que resistem é organizar a militância e se experimentar junto ao povo, retomar o vínculo e o protagonismo popular, imprimir na sociedade Brasileira uma dinâmica de lutas, organização, elevação do nível de consciência em uma crescente, nos grandes atos de hoje, nos de amanhã que serão maiores e depois de amanhã maior ainda. É o povo entrando na historia da construção nacional democrática e soberana.
*Olívia Carolino é da direção nacional da Consulta Popular
Edição: Juca Guimarães