Quem caminha pela rua Guilherme Matter, a cerca de duas quadras da Superintendência da Polícia Federal em Curitiba, no bairro Santa Cândida, encontra um cenário diferente das outras ao redor. Desde sábado (7), quando foi montado o acampamento Lula Livre com o objetivo de fazer vigília permanente em defesa do ex-presidente, novos ônibus cheios de apoiadores de Lula chegam de todo o país diariamente.
Valter de Jesus Leite, integrante do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) de Cascavel (PR), destacou a diversidade dos participantes do acampamento. Ele conta que além das pessoas que estão permanentemente acampadas, várias outras passam diariamente para prestar solidariedade. “Como a perspectiva é permanecer fazendo a resistência até a soltura de Lula, muitas outras pessoas passarão por aqui”, prevê.
É o caso de Caio Wendeler, 20, morador de Curitiba, estudante de Direito. Ele não está acampado em frente à PF, mas decidiu manifestar seu apoio a Lula no local. “Eu vim prestar solidariedade. Nós temos que demonstrar que somos contra esse desprezo que uma parte da sociedade tem com ele”, explicou.
O petroleiro Cláudio Beal disse que veio à capital paranaense "em defesa do mais fraco, dos 14 milhões de desempregados. A única saída para a crise do nosso país é Lula", afirmou. Mais de 100 trabalhadores petroleiros se deslocaram até o acampamento para uma reunião extraordinária do Conselho Deliberativo da Federação Única dos Petroleiros que discute paralisações nacionais no setor de petróleo.
No local há banheiros químicos e também cozinhas comunitárias onde são preparadas as refeições para os acampados. Foram divididas equipes de trabalho para cuidar da saúde, da segurança e da limpeza do local. “Esse princípio da organização coletiva está presente no nosso acampamento de resistência”, afirma Leite.
Marias e Josés
No domingo (8) e na manhã desta segunda-feira (9), várias lideranças políticas foram ao acampamento. A cantora Ana Cañas realizou um show gratuito para todos os presentes. A senadora Gleise Hoffman, o senador Lindbergh Farias, a pré-candidata à presidência pelo PCdoB, Manuela D'Ávila, os deputados Paulo Pimenta e Patrus Ananias, além de João Paulo e João Pedro Stédile, da direção nacional do MST, já foram ao local conversar com a população e debater uma leitura crítica sobre a prisão de Lula.
Mas o acampamento também é feito por pessoas como Maria Lima e José Volski, trabalhadores rurais que estão dormindo em barracas e dentro de ônibus para manter a vigília até que Lula esteja em liberdade. Maria Natividade de Lima é moradora do Assentamento Contestado, localizado no município da Lapa, cerca de 70 km da capital Curitiba. Ela integra a equipe de Terapia Natural Popular do assentamento e está oferecendo gratuitamente massagens e remédios fitoterápicos para os participantes do Acampamento Lula Livre. “É tudo natural, para ajudar a amenizar nosso povo quando fica cansado ou doente”, conta.
Para ela, o ex-presidente Lula está sendo injustiçado, já que não há provas de crime. “Viemos em solidariedade e queremos o Lula livre. Não tem jeito de ser diferente, o povo brasileiro precisa dessa libertação”, afirma.
A jovem de 20 anos Maria Gabrielly Dantas montou um brechó no acampamento. Moradora do bairro Novo Mundo, em Curitiba, ela conta que o brechó é a fonte de renda de sua família, “de militantes e negros”, como resume. O brechó itinerante faz parte de um coletivo de economia solidária e é montado em locais onde há atividades políticas.
Maria Gabrielly é militante do Partido dos Trabalhadores (PT), assim como seus pais, e lembra que desde pequena participava de reuniões de associação de moradores e de passeatas. Para ela, o ex-presidente Lula deu visibilidade e oportunidades para a população negra. "Eu sou a neta mais negra da minha avó e vou ser a primeira neta da família a se formar”, conta a estudante de Design de Moda que teve acesso ao Programa Universidade para Todos (ProUni), criado por Lula em 2004. “Represento uma geração que está podendo ter acesso a coisas que nunca tivemos", diz.
Outro participante do acampamento Lula Livre é José Carlos Volski, que chegou ao local às 6 horas da manhã de ontem, com outras 88 pessoas. José é agricultor de um acampamento do MST, localizado no município Faxinal, região norte do Paraná. Ele conta que veio até Curitiba protestar contra o que chamou de “ditadura disfarçada de democracia”.
No acampamento, José ajuda a organizar os alimentos doados e os distribui para as cozinhas montadas local para garantir que todos estejam bem alimentados. Ele aproveitou a entrevista para chamar outras pessoas para fazer doações de alimentos, água e cobertores. A Secretaria Operativa do Acampamento montou uma tenda no local e vai atender as pessoas que querem doar.
Edição: Diego Sartorato e Ednubia Ghisi