A violência contra profissionais de imprensa no exercício da função está no centro das preocupações de trabalhadores e entidades representativas. Na semana passada, diante da prisão do ex-presidente Lula (PT), o país registrou não só uma intensificação dos protestos de rua, mas também novas agressões contra profissionais que atuam na cobertura jornalística.
A fotógrafa free lancer Bárbara Cabral, que trabalha em Brasília, foi uma das vítimas. Na última quinta-feira (5), ao chegar ao local onde acompanharia uma manifestação, ela e a repórter com quem estava tiveram o carro da equipe atacado por manifestantes.
“Fiquei bem calma na hora porque não estava acreditando no que estava acontecendo. A gente conseguiu sair e foi pra delegacia. Depois a gente descobriu que outros veículos foram enxotados de lá também. Meu sentimento é de chateação”, desabafa.
A fotógrafa conta que costuma cobrir manifestações sistematicamente desde 2013, quando houve um aumento dos protestos pelo país. Ela afirma que nunca havia sido agredida durante o trabalho.
“O pessoal está muito nervoso com a situação politica, então, eles não associam [o profissional] a gente, e sim ao veículo, e isso é muito errado”, considera.
O presidente do Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo (SJSP), Paulo Zocchi, destaca que esse tipo de confusão é comum entre manifestantes dos diferentes espectros políticos.
“Todo mundo é livre pra protestar contra as empresas de comunicação, mas o jornalista é um trabalhador. Ele não pode ser confundido com as empresas e tem que ter o seu direito de trabalhar preservado”, sublinha.
Proteção
As ocorrências de agressões se multiplicaram pelo país nos últimos dias, especialmente em São Bernardo do Campo (SP), que concentrou a cobertura da imprensa relacionada ao caso do ex-presidente Lula.
O SJSP montou um esquema no final de semana para prestar apoio aos trabalhadores ameaçados. Entre a manhã de sexta-feira (6) e a noite de sábado (7), foram formalizadas três denúncias, mas diversos jornalistas relataram que foram hostilizados por manifestantes.
Os casos ocorreram com profissionais de diferentes veículos, entre eles UOL, Estadão, Globo, G1 e Rede TV. Preocupado com a situação, o Sindicato agendou uma assembleia para esta quinta-feira (12) para abordar o problema e discutir novas medidas de proteção ao exercício profissional.
Crítica do golpe de 2016, que depôs a presidenta eleita Dilma Rousseff (PT), a entidade considera que a cobertura da grande imprensa no Brasil tem caráter partidário e de perseguição política ao ex-presidente Lula. Para o Sindicato, haveria ligação entre a linha editorial desses veículos e o contexto de agressão aos jornalistas, que piorou diante do acirramento das disputas políticas.
“Eles [os jornais] ajudam a estimular e a criar um cenário marcado por uma escalada da violência contra os jornalistas”, analisa Zocchi.
Histórico
Em 2016, os casos de violência explícita contra jornalistas aumentaram 17,52% em relação ao ano anterior. Foram 161 ocorrências, sendo duas de assassinato. Outros 220 profissionais foram vítimas de algum tipo de violência no mesmo ano. Os dados são da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj).
Em 2017, foi verificada uma redução de 38,5% nos casos de violência concreta. A presidenta da Fenaj, Maria José Braga, afirma que a mudança se deu graças à atuação da Federação e dos diferentes sindicatos, que levaram a questão da proteção aos profissionais para a mesa de negociação com as empresas.
Ela acrescenta que o investimento em denúncias, tanto no Brasil quanto no Exterior, também teria contribuído para a redução.
“Isso, de certa forma, intimida os agressores. O profissional também está mais cuidadoso, mais preocupado com a sua segurança”, afirma.
As entidades representativas afirmam que os profissionais que sofrerem algum tipo de agressão devem registrar o caso junto ao seu sindicato para que sejam tomadas as medidas cabíveis.
Edição: Juca Guimarães