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Deputados de oposição apontam perseguição à esquerda no Congresso

Atualmente, três parlamentares são vítimas de processo no Conselho de Ética da Câmara

Brasil de Fato | Brasília (DF) |

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Votação do processo de impeachment da presidenta eleita Dilma Rousseff (PT) na Câmara dos Deputados em 2016
Votação do processo de impeachment da presidenta eleita Dilma Rousseff (PT) na Câmara dos Deputados em 2016 - Agência Brasil

Deputados progressistas de esquerda que atuam na Câmara Federal apontam que o parlamento vive um momento de criminalização das forças de oposição. Um processo movido, no último dia 27, pela bancada do Partido da República (PR) junto ao Conselho de Ética reforça a tese de perseguição aos parlamentares de esquerda.

Em três representações protocoladas no colegiado, a sigla conservadora acusa os deputados Ivan Valente (PSOL/SP), Erika Kokay (PT-DF) e Jean Wyllys (PSOL-RJ) de suposta quebra de decoro parlamentar. Os dois primeiros são acusados de injúria e difamação por terem criticado o presidente golpista Michel Temer (MDB) em discursos feitos no plenário da Casa.

Para Valente, a iniciativa do PR se insere no contexto de tentativa de sufocamento das vozes dissonantes no âmbito do Congresso. Ele considera que a representação no Conselho seria uma medida para intimidar a oposição.  

“Visa, na verdade, criar um constrangimento. Não tem nenhum sentido. É muito mais uma provocação do que um ato sério, mas certamente ele visa a uma intimidação”, disse Valente.  

Erika Kokay ressalta que as “ofensivas” contra a esquerda se intensificaram nos últimos dois anos, após o golpe de 2016. Ela aponta que o avanço dos discursos fascistas e da cultura do ódio encontra forte ressonância dentro do parlamento, em especial entre grupos como a chamada bancada da bala.  

“É uma lógica fascista de eliminar o outro porque [ele] diverge na forma de ver o mundo e diverge politicamente. Ela cresce de forma muito nítida e muito desenvolta no atual estágio do país porque nós estamos em ruptura democrática”, analisa.   

Na mesma linha de raciocínio, o deputado Jean Wyllys destaca o ódio contra a população LGBT como um dos motivos para a representação protocolada pelo PR. Esta é a segunda vez que o parlamentar é alvo de um processo no Conselho.

Na primeira vez, ele foi acusado de quebra de decoro parlamentar contra Eduardo Bolsonaro (PSC-RJ), mas o parecer, que pedia a suspensão do mandato do psolista, foi rejeitado pela maioria do colegiado.

Desta vez, Wyllys é acusado de suposta apologia ao uso de drogas e perversão sexual por ter declarado, durante uma entrevista, que, se o mundo acabasse, aproveitaria para consumir todas as drogas ilícitas e fazer sexo com quem desejasse. Ele analisa representação como uma iniciativa homofóbica.

“Tem a ver claro, com meus posicionamentos à esquerda, mas existem outros deputados à esquerda. Mas nenhuma deputada e nenhum deputado é gay assumido, pertence a essa comunidade e fala com orgulho acerca dessa questão, dessa identidade. Em qualquer lugar do mundo, numa democracia séria, forte, esse processo sequer chegaria ao Conselho de Ética”, destaca.

O Brasil de Fato procurou ouvir o Partido da República, mas a legenda informou que prefere não responder às críticas. Os três processos ainda serão analisados pelo colegiado.

O Conselho não costuma punir os parlamentares por declarações relacionadas a discursos e manifestações de opinião porque a Constituição Federal garante a chamada “imunidade parlamentar”.

 

Edição: Juca Guimarães