O agricultor João Francisco, de 55 anos, é uma das 800 pessoas que passam as noites acampadas próximas a Superintendência da Polícia Federal, em Curitiba. O acampamento batizado pelos manifestantes como 'Lula Livre' reúne, ao longo do dia, mais de 2 mil pessoas que participam de atividades de apoio e solidariedade ao ex-presidente. Lula está preso no prédio do PF desde o sábado (7). Desde esse dia, mais de 20 ônibus de caravanas de 11 estados já chegaram à cidade, e mais de sete mil pessoas circularam pelo local.
João Francisco saiu no domingo a noite do acampamento Herdeiros da Luta, de Porecatu, no Norte do Paraná. Chegou em Curitiba na segunda-feira de manhã junto com mais 85 pessoas, distribuídas em dois ônibus. Deixou a plantação de milhos feijão e de hortaliças agroecológicas aos cuidados da esposa, dos filhos e dos vizinhos, para poder se somar às mobilizações. "A gente tá aqui pra ter um Brasil democrático", explica. "É uma injustiça o que está vivendo o ex-presidente Lula. Nos dois mandatos, o presidente tirou milhares de pessoas e famílias da fome. Muita gente tem sua casinha e seu carro por causa dele".
Caso o ex-presidente não seja solto nos próximos dias, o agricultor pretende ficar acampado na capital paranaense até quarta-feira, quando o Supremo Tribunal Federal deve julgar novo recurso da defesa de Lula. Depois disso, volta para a casa enquanto outras pessoas da região devem vir à Curitiba para as mobilizações.
Enquanto não retorna, conta com a colaboração dos vizinhos em Porecatu, como do agricultor Alcione Bernabé. Alcione também esteve na capital desde segunda-feira, mas voltou para a casa nesta quinta-feira à noite para cuidar da plantação e dos animais da sua e de outras famílias. "Vamos fazer o revesamento com o pessoal lá para suprir as atividades enquanto outras pessoas vem", explica.
Para participar das mobilizações em solidariedade ao ex-presidente, o agricultor dormiu na carroceria de um caminhão baú cedida por um vizinho do acampamento Lula Livre. Ele fala que já participou de diferentes manifestações contra a retirada de direitos de trabalhadores e trabalhadoras, como contra as reformas trabalhista e da previdência. "A gente faz a luta por nós e por outras pessoas. Se está afetando a classe trabalhadora, não importa se mora na favela, na cidade grande, ou no campo, a gente participa da luta", fala.
De todo o país
Indígena da etnia Tapaxó, Maria Florguerreira (ou Txahá Xoha, nome indígena) viajou 15h desde Belo Horizonte para participar da mobilização em defesa ao ex-presidente. Chegou na terça-feira, em um ônibus com outras 40 pessoas. "Não só por Lula", lembra. "Mas é por todos nós, porque Lula representa as minorias", explica. Com a prisão do ex-presidente, ela diz temer o futuro da população brasileira. "Se um homem com tanta visibilidade está sendo massacrado, o que será de nós?".
Além de Paraná e Minas Gerais, já chegaram ônibus das caravanas de São Paulo, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro, Pernambuco, Rondônia, Maranhão, Bahia, Ceará e Santa Catarina. Em Curitiba, devem se concentrar principalmente pessoas da região Sul e Sudeste do Brasil. Outros estados estão se dirigindo à Brasília, onde outro acampamento 'Lula Livre' é realizado.
A professora de biologia e dirigente da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação, Marta Vanelli Lula da Silva - como se apresenta agora - veio de Florianópolis junto com um grupo de 40 pessoas do litoral catarinense que chegou em Curitiba no sábado (7). A proposta é que novas pessoas da caravana cheguem e vão embora a cada três dias. "Algumas pessoas tiram dias de férias, outras usam o banco de horas ou conseguem liberação dos trabalhos para poder participar", explica. Toda essa mobilização é em solidariedade ao ex-presidente. "Lula está em nossos corações", se emociona.
Vindo do Oeste de Santa Catarina, da cidade de Santa Terezinha do Progresso, a agricultora Lizete Maria Bernardi chegou ao acampamento na quarta-feira(11) de manhã. "Eu tô aqui porque eu acredito que o povo ainda faz a diferença", explica. Para ela, defender Lula é defender um projeto de país. Lizete destaca os avanços para a agricultura familiar durante a gestão do ex-presidente, através da criação de políticas públicas para as famílias do campo. Exemplo disso foi a política de habitação rural, praticamente extinta. "Essas políticas trouxeram a valorização da agricultura familiar e também a autoestima para as famílias", aponta.
A agricultora conta que políticas de educação como o Programa Universidade para Todos (Prouni) também possibilitaram que sua filha se formasse no curso de Psicologia, e seu filho, estudasse Veterinária. Ele vai poder continuar trabalhando na região e, quem sabe, na propriedade dos pais. "Tudo isso possibilita acabar com o êxodo rural, porque há uma política de valorização das famílias através do crédito fundiário, da habitação, e dos cursos universitários que também estão mais acessíveis para que os jovens não tenham que sair para os grandes centros", explica.
Edição: Diego Sartorato