O segundo dia da Conferência Nacional "Vencer a batalha da comunicação", organizada pela Partido dos Trabalhadores (PT), realizado neste sábado (14), em São Paulo (SP), contou com um debate profundo acerca da relação entre democracia e comunicação.
Com mediação de Paulo Vannuchi, ex-ministro dos Direitos Humanos, a atividade de abertura dos trabalhos do dia contou com a participação da filósofa Marilena Chauí, da Universidade de São Paulo (USP), e do cientista político Juarez Guimarães, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
Em sua explanação, Chauí falou sobre os desafios da democracia brasileira, que, de forma direta, afetam a maneira como nos comunicamos e lidamos com a comunicação nos dias de hoje no país.
Ideologia da competência
A filósofa explicou que, sendo uma sociedade, por essência, antidemocrática, a comunicação no Brasil tem um papel ideológico e alinhado ao neoliberalismo. "O jornalismo deixa de ser informativo, para ser opinativo", disse.
O que passamos a ter, então, é o direito de todos opinarem sendo substituído pelo direito de só alguns, ou seja, a restrição da voz dos sujeitos. "A ideia de que existe um formador de opinião [sejam pessoas ou veículos] parte do princípio de que nós não temos opinião, só sentimentos", afirmou.
Internet
Este estado de indivíduo passivo da informação nos influencia cotidianamente. É quando pensamos na discussão da Internet, o debate fica ainda mais perigoso no sentido de que o meio virtual, hoje, apenas camufla os seus objetivos: ao contrário do que se imagina, ele não é um espaço democrático.
"A internet nasce em um estrutura econômica que ela mantém invisível. Ela não aparece como um instrumento econômico, mas um ambiente universal de comunicação. (...) A internet nos coloca em uma contradição: de um lado atravessa as fronteiras sociais e políticas, parece permitir aos grupos se apropriar de seu ambiente. Por outro lado, as práticas determinam complexas relações fragmentadas em um espaço inexistente, e operam a obediência e sedução, camufladas de liberdade de escolha. 'Escolher o que? Escolher obedecer'", explicou.
Lula
Diante da estrutura comunicacional atrelado ao neoliberalismo, sair do estado passivo, entender o indivíduo como ser que possui "pensamento" e não apenas "emoções" é uma tarefa extremamente complicada.
Revisando os pensamentos do filósofo marxista Antonio Gramsci, e frisando a continuidade foi processos de golpe no país, Juarez apontou para um primeiro passo. "Não se separa comunicação da política", disse.
"Pela primeira vez na história do PT, formamos uma consciência autocrítica sobre a valiosa necessidade de colocar no primeiro plano da nossa práxis, a comunicação política", pontuou.
Desta forma, o professor frisou o papel protagonista dos comunicadores e comunicadoras para a construção de uma.narrativa que culmine na liberdade de Lula.
"Lula foi desde a fundação do PT, e é cada vez mais em sua caminhada, o nosso maior comunicador. A única liderança nacional da esquerda brasileira que fala para milhões. Única potência de voz pode fazer contraponto no mesmo patamar com a Rede Globo de Televisão. Por isso, para os golpistas, não era suficiente impugnar sua candidatura à presidente, nem mesmo prendê-lo. Mas era preciso calar a sua voz. No ato histórico de resistência em São Bernardo, ele nos passou este direito de voz. Trata-se agora de construir o direito púbico de liberdade de expressão da esquerda", frisou.
À tarde do sábado foi dividida em painéis de discussão: redes sociais, audiovisual, rádio e jornalismo. Os dois últimos com participação de Vivian Fernandes e Mauro Ramos, da equipe Brasil de Fato.
Edição: Diego Sartorato