Foi destacando o amor pelo Brasil e a busca por justiça social que André Singer, filho de Paul Singer, falou sobre o pai. Paulo, como era conhecido entre os amigos, faleceu aos 86 anos nesta segunda-feira (16) e foi velado nesta terça-feira, na presença de familiares, amigos e lideranças do mundo político.
Singer foi um dos primeiros a trabalhar com o conceito de economia solidária no Brasil. Sua filha, Helena Singer, destacou que esse foi o grande propósito do economista nos últimos anos.
"Essa foi a razão de vida dele, a causa a qual se dedicou com toda força e ele já tinha quase 60 anos quando começou a se dedicar isso e rejuvenesceu porque descobriu uma nova causa que a qual ele podia se dedicar muito", conta.
Singer integrou o grupo de fundadores do PT, em 1980. Dele, partiu a formulação de um programa de desenvolvimento a partir do fortalecimento do mercado interno via distribuição de renda, um dos maiores legados dos governos petistas.
Eduardo Suplicy, vereador de São Paulo, conta como esse programa de desenvolvimento foi defendido por Singer quando ele assumiu a Secretaria Nacional de Economia Solidária, ligada ao Ministério do Trabalho, durante o início do governo Lula.
Singer foi também uma grande estimulador dos bancos comunitários como uma forma de erradicar a pobreza. "O secretário de economia Paul Singer se entusiasmou muito com isso e fez com que o próprio Banco Central, e o BNDES reconhecessem isso e agora na cidade de São Paulo há pelo menos cinco experiências de moedas sociais", afirma ao ressaltar a importância do apoio de Singer.
Esse não foi o primeiro cargo público ocupado por Singer. Ele foi secretário de planejamento de São Paulo na gestão de Luiza Erundina, entre 1989 e 1993.
O amigo, José Arthur Gianotti, filósofo e professor da USP, explicou que o conceito de economia solidária de Singer, parte da crítica ao capitalismo.
"O Paulo sempre defendeu a ideia de que precisaríamos criar sistemas paralelos que pudessem acolher a mão de obra marginalizada e desse uma nova forma de trabalho e dignidade aos trabalhadores", afirmou o amigo com quem Singer mantinha fortes diferenças políticas.
Militante assíduo e, segundo seus filhos, ativo até sua morte, Singer também teve uma ampla carreira na academia. Tornou-se referência para a divulgação do pensamento de esquerda não marxista.
Sonia Kruppa, professora da Faculdade de Educação USP, trabalhou com Singer durante vários períodos distintos. A educadora ressalta que para além do legado da contribuição do conhecimento e da pesquisa acadêmica, Singer deixa como herança a possibilidade real de transformação da sociedade.
Para Kruppa, o legado do economista “é a profunda crença de que a gente pode, coletivamente, transformar o mundo. Singer é uma estrela que nos guia no sentido de que coletivamente podemos fazer a mudança", diz emocionada.
Entre as personalidades da política que foram prestar as suas homenagens estão os ex-ministros Guido Mantega e Celso Amorim; os ex-deputados José Genoino e Eduardo Jorge, o ex-presidente do PT, Rui Falcão e o ex-prefeito da cidade de São Paulo, Fernando Haddad.
História
Paul Singer nasceu na Áustria, em 1932. Chegou ao Brasil aos 8 anos, fugido do nazismo após seu país ser anexado por Hitler. Na juventude, foi filiado ao Sindicato dos Metalúrgicos e ajudou a organizar a greve dos 300 mil que paralisou a cidade de São Paulo por mais de um mês em 1953.
Quando ainda se considerava marxista, enquanto estudante da USP, foi convidado para compor o “Seminário de Marx” onde participaram também o sociólogo e ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, a antropóloga Ruth Cardoso e o filósofo Giannotti.
O grupo deu origem ao Cebrap, Centro Brasileiro de Análise e Planejamento que até hoje reúne intelectuais da economia. Entre os livros escritos mais celebrados estão "Desenvolvimento e Crise", de 1968, "A crise do milagre", de 1977 e “Introdução à Economia Solidária", de 2002.
Frases sobre Paul Singer
A ausência dele é uma perda muito grande para o PT. Espero que ele continue inspirando como tem inspirado muitos militantes simpatizantes para continuar a batalha que ele traçou durante todo a sua vida. Tenho certeza que se Lula estive aqui, viria prestar sua homenagem também. Paulo Okamoto, presidente do Instituto Lula.
Tudo o que ele demonstrava para fora era exatamente o que ele era na intimidade, uma pessoa íntegra, cuidadosa e carinhosa com todos. Helena Singer, filha de Paul Singer.
Paul foi um grande professor de economia. Tinha visão de economia solidária. Ele pensava muito em como fazer evoluir a economia para beneficiar os mais pobres e a população de baixa renda. Guido Mantega, ex-ministro da Fazenda.
O que se tem dele é uma crença profunda na história e na possibilidade de transformação da democracia, do socialismo, mas um socialismo profundamente democrático. Ele acreditava na revolução social de longa duração que exige que a gente se transforme para que juntos possamos fazer uma nova sociedade. Sonia Kruppa, professora da USP.
Edição: Katarine Flor
