A 3ª Feira Nacional da Reforma Agrária conta com mais de 1.200 alimentos de 26 estados brasileiros. Entre a diversidade de produção dos assentamentos, há também cervejas artesanais. Em conversa com a Rádio Brasil de Fato, os diferentes produtores afirmam que a produção das bebidas tem como objetivo fazer com que os assentamentos se tornem ainda mais autossuficientes, e dependam cada vez menos das grandes indústrias.
Pedro Miguel e Gabriela Macedo fazem parte do assentamento Professor Luiz David de Macedo, localizado no alto do Vale do Ribeira. O casal produz cerveja artesanal há pouco tempo e conta porque tomaram essa iniciativa.
"A maior parte dos alimentos não só têm veneno e são de péssima qualidade, mas tampouco são alimentos saborosos em geral", afirma Pedro Miguel
Depois de iniciada a produção o casal tem como meta aprofundar a autonomia na produção das cervejas.
"Estamos com a intenção agora (e trabalhando para isso) de plantar a cevada e o lúpulo agroecológico. Por que existe cevada e lúpulo orgânico, mas eles são importados", diz Gabriela.
No mesmo sentido, Pedro afirma: "Temos mudas de lúpulo, e ainda estamos na fase de estudar o plantio, quais os cuidados necessários pra produzir a cevada. No caso do trigo, já temos assentamentos que produzem, inclusive orgânico e agroecológico. Então, a produção de insumos é nossa segunda meta agora, pra podermos de fato ter uma cerveja produzida de forma autônoma".
Carlos Ponsera, natural do Rio Grande do Sul, também produz cerveja artesanal. A bebida é feita no assentamento Filhos de Sepé, no município de Viamão.
"A ideia principal de produzirmos cerveja é um pouco se livrar do consumo das cervejas que temos no mercado que levam muita quantidade de conservantes e milhos transgênicos. A gente pega uma cerveja das mais populares que há no mercado, e você não sabe a origem do que tem ali dentro da garrafa", afirma Ponsera.
O agricultor também defende a produção de cerveja como uma iniciativa que aumenta a autonomia e renda dos assentamentos.
"A produção de alimentos de modo geral é a nossa bandeira. E a produção de alimentos está casada com a auto-sustentação dos assentamentos. Então, a partir do momento que você produz arroz e vende pro consumidor que está em grandes cidades, você está garantindo uma renda que entra para os assentamentos. Mas também, ao diminuir a compra de produtos acabados, você também melhora a renda dos assentamentos, porque você deixa de gastar. O assentamento consome cerveja, então, você deixar de comprar dos grandes grupos também representa um fator de aumento de renda das famílias assentadas", argumenta Ponsera.
O produtor ainda explica um dos motivos do nome da Popular, a cerveja que ele produz: "E um outro elemento que o 'Popular' carrega no nome tem a ver com que é possível produzir uma cerveja de qualidade e vender a preços acessíveis. A gente se recusa a vender uma cerveja artesanal a 20 reais por exemplo. Uma cerveja que tu tem um custo na faixa de uns dez reais. Então da pra repassar tranquilamente por um preço acessível pra quem vai consumir. O projeto então tem esse objetivo, de que a população de baixa renda consiga ter acesso a produtos de mais qualidade",
Na 3ª Feira Nacional da Reforma Agrária você encontra as cervejas Campesina, Popular, Subversiva e Terra, entre outras, além de cachaças de diversos estados.
Edição: Mauro Ramos