Irma Brunetto, 58 anos, pertence a uma família de seis irmãos, descendentes de italianos. A partir dos anos 1970, a família Brunetto decidiu deixar o Rio Grande do Sul em busca de terras no estado vizinho, Santa Catarina. “Mas nós não conseguimos, então nós nos tornamos uma família sem terra”, conta ela como se tornou a partir de então, uma militante pelo direito à terra.
Foi a partir da religiosidade que Irma e sua família teve o primeiro contato com a luta. “A gente participava muito das pastorais, dentro da linha da teologia da libertação, na igreja, e a partir dai nós começamos a participar da Comissão Pastoral da Terra [CPT] e no final do ano de 1984 a gente foi se incorporando no sentido de começar a organizar o MST [Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra] lá em Santa Catarina. A partir daí nós começamos a organizar a nossa primeira ação e em 1985 nós fizemos a nossa primeira ocupação do MST em Santa Catarina, na cidade de Abelardo Luz, na região oeste”.
A ocupação reuniu 1.500 famílias e resultou na desapropriação de 20 áreas destinadas à reforma agrária. Irma lembra com carinho daquele dia em que romperam as cercas do latifúndio, inaugurando uma nova fase na vida daqueles camponeses.
“Nós estávamos arrumando as coisas pra ir pra ocupação e aí o meu vizinho esqueceu de guardar o alicate. Então como ele já tinha fechado as caixas, ele disse pra mulher dele guardar o alicate na sacola onde tinha as coisas do neném. E aí quando chegamos lá, tinha uma cerca do lado da estrada, que atrapalhava descarregar as coisas. E o alicate estava já na mão. E até hoje a gente guarda aquele alicate como algo histórico para nós”.
Foram três anos de acampamento até a conquista da terra em 1988, no município Dionísio Cerqueira. O assentamento ganhou o nome de Conquista da Fronteira, por ficar justo no limite entre o Brasil e a Argentina.
Hoje, com 30 anos de experiência, as famílias assentadas organizam a produção através da Cooperunião, uma das experiências de sucesso do MST no beneficiamento de alimentos.
“Hoje, o carro chefe da nossa cooperativa é o leite. Mas nós já tivemos um frigorífico de pequena escala, onde nós produzimos frangos por 15 anos. Ele tinha uma capacidade de produzir 700 frangos por hora e agora tivemos que ampliar. Então estamos em fase de conclusão do novo frigorífico que vai ter uma capacidade para 3.500 frangos por hora”, diz, orgulhosa.
Com uma produção tão grande, já não é necessário comprar quase nada para o consumo interno das famílias assentadas. “A gente compra pouca coisa, porque a gente produz desde ovo, queijo, feijão, arroz, batata doce, mandioca, abóbora e amendoim; temos mel, banha, salame, enfim, tudo o que é para o nosso próprio consumo a gente produz na cooperativa”.
Parte dessa produção foi reservada para a participação dos agricultores e agricultoras catarinenses na 3ª Feira Nacional da Reforma Agrária, que acontece desde a quinta-feira (3) até o domingo (6), no Parque da Água Branca, zona oeste de São Paulo.
“Eu não vim na primeira feira. Eu vim na segunda e disse: ‘meu deus, eu agora não vou perder nenhuma!’. É uma coisa muito legal. Quando passou os cantadores por aqui eu disse: ‘Isso aqui não acontece em nenhum outro lugar desse mundo. No mundo não existe algo parecido com essa feira. É ciranda, seminários, animação, shows, comidas… isso é fora de sério”.
Além de Irma, outros 900 agricultores do MST participam do evento na capital paulista. A entrada é gratuita.
Edição: Diego Sartorato