Futuro

Estefani, 10 anos, porta-voz dos Sem Terrinha

Filha de produtores rurais do MST conta sua experiência na Feira Nacional da Reforma Agrária

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |
Cortejo dos Sem Terrinha cruza a Feira Nacional da Reforma Agrária no sábado (5) à tarde
Cortejo dos Sem Terrinha cruza a Feira Nacional da Reforma Agrária no sábado (5) à tarde - Diego Sartorato

A jovem Estefani, de apenas 10 anos, está na quinta-série da escola e é filha de produtores rurais do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) do Assentamento Egídio Brunetto, no município de Lagoinha, na região do Vale do Paraíba, em São Paulo.

E durante os quatro dias da Feira Nacional da Reforma Agrária, que se encerra neste domingo (6), em São Paulo, ela também foi princesa unicórnio, ativista do movimento agroecológico, feirante e radialista mirim.

"Esta é minha primeira feira, e eu estou achando muito legal. Várias coisas que eu não conhecia, eu conheci, frutas, alimentos", conta Estefani.

Ao lado de outras cerca de 50 crianças, todas Sem Terrinha (como identificam-se os filhos e filhas de integrantes do MST), ela participou de todas as atividades da Ciranda Infantil Paulo Freire, além das atrações infantis abertas a todo o público.

Encontros

No sábado, dia mais movimentado da agenda das crianças, Estefani apresentou um programa na Rádio Brasil de Fato, que acompanhou os quatro dias de feira ao vivo, e participou da Feirinha, atividade em que as crianças do campo saíram pelo parque para oferecer alimentos agroecológicos às crianças da cidade que visitavam a feira.

"O que eu mais gostei do que a gente fez foi a Feirinha. Foi legal, a gente deu frutas pras crianças de fora, demos uma volta no parque. Elas pegavam as frutas e nos diziam: obrigado", lembra.

Ela se prepara agora para mais uma tarefa: em 28 de maio, dia de seu aniversário de 11 anos, estará em Brasília para participar do Encontro Nacional dos Sem Terrinha, que tem como objetivo apresentar às crianças de forma lúdica e didática as causas que o movimento defende e realizar encontros entre filhos e filhas de assentamentos do MST de todo o país.

A gente quer plantar

“Vai ser muito legal, nós vamos conhecer gente nova, vamos brincar. Eu fui no encontro do ano passado, em São Paulo, e gostei muito", diz Estefani, e revela desenvoltura de futura dirigente ao explicar o que faz o movimento: 

"Sempre explico [o que é o MST] para minha amiga Gabriela, que é uma das minhas melhores amigas da escola. Ela sempre pede pra ir lá em casa pra ver e saber. O que eu digo é que a gente só quer plantar. Porque quando a pessoa não quer plantar, tem tudo aquilo e não quer fazer as coisas, a gente quer. A minha família sempre quis ter um terreno, né?", diz.

"Daí a gente luta pra poder plantar, e sem agrotóxico, porque também tem muita gente que põe veneno, e a gente não quer", completa Estefani, que diz que, mesmo em poucos meses no assentamento em que está vivendo (a família é natural de Santa Catarina), já plantou e colheu milho e feijão. "E ontem mesmo minha mãe foi comprar semente pra plantar mais coisas".

"Eu quero muito que as coisas da minha casa, tipo assim, os produtos, essas coisas, sejam a comida da escola. Um dia o pessoal da cidade vai comer a nossa comida saudável também, sem agrotóxico. Na escola, quando eu como o tomate, me dá afta, e quando eu como o que a gente faz em casa, não dá afta", ressalta Estefani.

Edição: Juca Guimarães