A utilização das plantas para uso medicinal não é uma questão apenas de saúde. O uso de fitoterápicos, por exemplo, promovem a autonomia e soberania popular, segundo integrantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) que compartilharam suas experiências na área durante a terceira edição da Feira Nacional da Reforma Agrária.
De acordo com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), o fitoterápico é tipificado como “medicamento obtido empregando-se exclusivamente matérias-primas ativas vegetais”.
Há três anos, a sem-terra Sanuza Motta começou a produzir preparados fitoterápicos no assentamento Zumbi dos Palmares, localizado no município de São Mateus, região norte do Espírito Santo.
“Eu cultivo as plantas medicinais por acreditar no poder curativo e preventivo destas plantas. Herdei isso da minha mãe. A gente cresceu tomando remédios populares e alternativos”, conta ela.
Por causa da iniciativa, ela fez especialização em Saúde para a População do Campo na Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). Hoje, ela comercializa os produtos em todo o estado, por meio das feiras e eventos do MST.
“Nas plantas a gente encontra a resposta de tudo. Não precisamos ir longe, a resposta está nos nossos pais, avós, nos livros, tanta coisa que já tá escrita sobre as plantas medicinais”, defende.
Para ela, a medicina tradicional, aliada à indústria farmacêutica, não aposta na diminuição da ingestão de produtos sintéticos e químicos por interesses econômicos.
“Da onde que o capitalismo quer dar autonomia para o povo brasileiro? Para a classe trabalhadora em todo mundo? Em um momento como esse estão furiosos com o sucesso da feira. Porque isso é autonomia, é soberania de um povo. Quando o povo domina o cuidado com a saúde, tem conhecimento, isso é um insulto a eles”, disse.
Para a Feira Nacional da Reforma Agrária, Sanuza levou mudas, plantas desidratadas e preparados fitoterápicos, que fizeram parte da uma diversidade de produtos oferecidos no evento, que ocorreu neste final de semana em São Paulo (SP).
A bibliotecária Clivia Oliveira de Campos, de 31 anos, comprou um creme para pele e um xarope da marca Terra Crioula, produzidos no estado do Rio de Janeiro. Ela costuma utilizar produtos naturais por saúde e a preservação do meio ambiente.
“Eu normalmente faço chás, porque onde eu moro, em São Bernardo, é bem difícil de achar produtos naturais assim. Faço para tudo, para cabelo, para creme, para shampoo, tento misturar, mas meu conhecimento é pequeno. Aqui já feira a gente conhece pessoas que realmente tem conhecimento e a troca é importante”, pontuou.
Os produtos que a bibliotecária comprou são de iniciativa do coletivo de saúde do MST do Rio de Janeiro, que faz os produtos desde 2007, explicou a sem-terra Luyanne Figueira da Silva.
“Nosso coletivo é formado só por mulheres. Somos bruxas, experientes nas questões das ervas e do conhecimento que sabem de muitas coisas.”
Edição: Diego Sartorato