Cerca de 200 mulheres se reuniram por dois dias, em João Pessoa (PB), para o 1º encontro sobre saúde mental das mulheres, que teve como tema os “Direitos e diversidades em tempos de golpe”.
Violências contra a mulher, políticas públicas em contexto de golpe, autocuidado das mulheres cuidadoras, aborto e drogas e a espiritualidade no cuidado em saúde mental foram alguns dos temas debatidos no encontro realizado entre os dias 30 de abril e 1º de maio.
Promovido pelo Grupo de Estudos em Direitos Humanos e Saúde Mental e o Grupo de Pesquisa e Extensão Loucura e Cidadania da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), o evento reuniu estudantes, professoras das áreas de saúde e especialistas no direito.
O objetivo das organizadoras do encontro foi a construção de redes entre as mulheres participantes a partir das suas demandas.
Pauta permanente
De acordo com a enfermeira obstetra Waglânia Freitas, professora da UFPB, a construção simbólica e da subjetividade das mulheres vem sendo afetada pelas competições impostas pelo patriarcado e o capitalismo.
Para ela, "é uma pauta que tem que estar no campo da saúde, no campo do direito, das ciências sociais; no campo de tudo que se tem gente. Não pode ser esquecido e nem deixado em segundo plano”.
Patrícia Magno, defensora pública do Estado do Rio de Janeiro, afirmou que, ao se invisibilizar a diferença de gênero, inviabiliza-se a elaboração de políticas realmente inclusivas. Magno, que trabalha na área da saúde mental, contou que saiu fortalecida do evento. “Eu chego numa proposta de troca mental, intelectual e saio fortalecida em outro nível. Foi muito afetiva. E os encontros de mulheres, as mulheres juntas, dialogando em rodas de conversa. Isso é essência de um fazer feminista”, afirmou.
Nas rodas de conversa houve a troca de experiências sobre o machismo numa sociedade capitalista, como causa do adoecimento mental das mulheres. Feminismo e as lutas antimanicomial e antiproibicionista, as lutas por direitos na saúde mental, os direitos sexuais e reprodutivos e o autocuidado e promoção de saúde mental.
Votar com o útero
Valeska Zanello, professora de Psicologia Clínica da Universidade de Brasília (UnB), alertou sobre a importância da participação de mulheres na política. “Votem com o útero nesse ano”, conclamou. Para ela, é preciso ocupar espaços na academia e na política para a elaboração de conhecimentos e leis em benefício da vida das mulheres.
Ao comentar sobre o aborto, Alessandra Almeida, presidenta do Conselho Regional de Psicologia da Bahia (CRP-BA), afirmou que se trata de uma pauta antiga, feminina e pouco falada, citando projetos em tramitação no Congresso para endurecer a legislação e retirar o direito das mulheres em acessar o aborto legal.
Segundo Almeida, a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 181, de iniciativa do senador Aécio Neves (PSDB-MG), estabelece que a vida seja considerada a partir da concepção, o que implicaria inclusive na perda do uso do contraceptivo, a pílula do dia seguinte. “Imagina o que significa a mulher [em situação de aborto] chegar no hospital e ela não ter o benefício da dúvida. A gente precisa em todos os espaços falar, desmistificar. A gente precisa tirar desse debate os segredos, os não-ditos e, principalmente, os interesses escusos que estão aí”, alertou.
O próximo encontro sobre o tema será realizado em Salvador (BA), em 2019.
Leia o documento final do 1º Encontro sobre Saúde Mental das Mulheres
Edição: Cecília Figueiredo