Repressão, censura e violência em pleno 2018. O mundo todo está inserido diariamente nesse campo de perseguição. Profissionais de imprensa ainda mais. A própria imprensa tem grande responsabilidade nisso.
Embora sejamos uma sociedade heterogênea temos nos unido a um pensamento único porque nos transformamos no que lemos, ouvimos ou assistimos. A mídia tem cada vez mais trocado seu papel de informar por tentar influenciar os rumos da nação, escolhendo a narrativa que mais lhe agrada e, muitas vezes, abrindo mão do jornalismo.
Não, não é nossa única dificuldade. Temos sérios problemas na educação básica, na formação das famílias, na cultura, no sistema político e judiciário, mas não podemos nos isentar enquanto imprensa.
É o sonho de muitos estudantes de jornalismo trabalhar em uma empresa célebre, um veículo comercial que dispensa apresentações porque todos o reconhecem imediatamente. Ainda que passar por uma grande redação seja importante, existe uma grandiosidade no jornalismo que independe de onde se trabalha. É a relevância social, o olhar voltado para as minorias, a transformação por meio da notícia e de como ela é transmitida.
Não há liberdade suficiente para fazer isso dentro dos grandes veículos. Mas o fato de ser minoria impede de termos espaço e voz? Não.
Por que temos, então, que nos tornar reféns das Hard News? Por causa dos likes?
A espiral do silêncio zomba de nós. Na teoria proposta pela filósofa e política alemã Elisabeth Noelle-Neumann o importante são as opiniões dominantes. A teoria nos vê assim: Calados, compactuando com os meios de comunicação por medo do que pensa a maioria. E, por estes, temos a formação da opinião pública.
Mas e se a maioria forem outros? E se a maioria silenciosa for o que chamamos de minoria? Permaneceremos assim?
Estamos enraizando o ônus social por medo de admitir uma ideia diferente. E sem pensar, muitas vezes, que a censura começa na autocensura.
E eis que o medo começa a se transformar em um egoísmo desmedido.
- “Não vou questionar esse governo porque ele paga o meu salário”.
- “Fulano apanhou feio. Mas também, quem mandou apoiar movimento social?”
Estamos assumindo um antijornalismo por covardia e esquecendo-nos da democracia, das leis, do bom senso. Viramos caçadores de cliques. Somos ofensivos, a qualquer custo.
Jornalistas e professores têm papel nessa mudança.
O futuro jornalista tem papel nessa mudança.
Os meios de comunicação alternativos nunca tiveram tanto espaço, mas ainda são poucos para combater essa sociedade hegemônica. Até quando vamos continuar consumindo notícia só pelo oligopólio da mídia?
Vamos chegar onde eles não chegam. Vamos noticiar o que eles não noticiam. Vamos relembrar o papel social do jornalismo.
Nós temos uma ferramenta muito mais poderosa que qualquer equipamento, que qualquer câmera filmadora, que qualquer veículo de comunicação: Nós temos ética. E temos também todo o futuro pra revolucionar.
Precisamos promover a liberdade de imprensa. Mas antes de tudo, buscar a verdade.
*Silvia Valin é professora universitária e diretora do Sindicato de Jornalistas do Paraná (SIndijor)
Edição: Ednubia Ghisi