A Petrobras anunciou esta semana um lucro líquido de R$ 6,96 bilhões no primeiro trimestre em 2018, o melhor resultado trimestral desde o início de 2013, quando lucrou R$ 7,69 bilhões.
O presidente da companhia, Pedro Parente, qualificou os resultados como “bem robustos”. Entretanto, para o coordenador da Federação Única dos Petroleiros (FUP), José Maria Rangel, o resultado que o mercado comemora é, na verdade, a desintegração da Petrobras.
“Apesar da euforia do mercado financeiro, esse lucro foi criado vendendo patrimônio público, reduzindo drasticamente os investimentos, transformando o nosso parque de refino numa verdadeira sucata e a empresa se transformando numa exportadora de óleo cru e cortadora de derivado que tem um valor muito maior. Então, diria que esse lucro, além de mais falso que nota de R$ 3, é um lucro, como diz o jargão popular, para inglês ver”, critica.
Rangel destacou que entre as razões dos quase R$ 7 bilhões de lucro anunciado estão a privatização, já que a empresa vendeu R$ 7,5 bilhões de seus ativos, e a redução de R$ 5 bilhões dos investimentos, em relação ao último trimestre de 2017.
O técnico do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), Cloviomar Cararine, também afirma que o lucro da Petrobras não tem relação com uma melhor produtividade da companhia.
“A Petrobras nunca esteve numa situação ruim, tirando a questão política, envolvida com relação, por exemplo, às questões que trouxeram a Lava Jato. A Petrobras sempre foi uma empresa muito sólida, uma empresa muito rentável, desde sempre. Isso [o lucro] não quer dizer que ela está melhor na sua produção, na sua operação. Não é verdade”, apontou.
Além dos pontos expostos por Rangel, Cararine agrega outros dois fatores para explicar o lucro da Petrobras. Em primeiro, destaca que a política de desinvestimento adotada fez com que a empresa contabilizasse cerca de R$ 120 bilhões em baixa de ativos, ou seja, prejuízo, até dezembro de 2017. Com o esgotamento desses ativos, nenhuma baixa foi registrada no primeiro trimestre de 2018, impactando positivamente o balanço contábil.
O segundo fator apontado é externo à gestão Parente: o aumento em 24% do preço internacional do petróleo, que saiu de US$ 53,8 na média do primeiro trimestre de 2017 para US$ 66,8 neste ano.
Se por um lado a Petrobras anuncia crescimento de lucros, por outro despenca nos investimentos. Segundo a FUP, a companhia investiu apenas R$ 9,9 bilhões no primeiro trimestre de 2018, o menor valor aplicado desde 2005. Em paralelo, nesses três meses a gestão Parente aumentou em R$ 20 bilhões o montante para pagamento da dívida e juros, quase o dobro do trimestre anterior.
Enquanto a Petrobras anuncia lucros recordes, a população brasileira, além de perder o patrimônio público que está sendo liquidado pela empresa, também sofre com os altos preços da gasolina e do gás, como destaca Rangel.
“O gás de cozinha se torna, para algumas pessoas, proibitivo. As pessoas voltam a cozinhar a lenha, a álcool. Isso tem aumento muito o número de acidentes nas residências brasileiras, principalmente no Nordeste, por conta de uma politica equivocada, uma politica anti-povo da atual administração da Petrobras”, concluiu.
Edição: Diego Sartorato