Uma audiência de conciliação foi marcada pela ministra Rosa Weber, do Supremo Tribunal Federal (STF) para tratar sobre o pedido do Estado de Roraima para que a União feche temporariamente a fronteira com a Venezuela. A audiência foi marcada para o dia 18, próxima terça-feira, e será realizada em Brasília, na sede do STF.
O despacho, assinado na segunda-feira, dia 7, atende uma ação civil movida pela governadora, Suely Campos (PP), que também visa o repasse de recursos federais para medidas administrativas nas áreas de serviços públicos, bem como recursos adicionais para cobrir os serviços que o Estado vem prestando aos cidadãos venezuelanos.
De acordo com o Campos, por meio de nota, a decisão da ministra Rosa Weber em acatar a proposta “é uma oportunidade para que o Governo Federal enfrente esse problema de verdade, assumindo as responsabilidades que lhe cabem no que se refere ao efetivo controle policial, de saúde e sanitário da fronteira e a transferência de recursos para cobrir o déficit que estamos suportando sozinhos desde 2015 na saúde, educação e segurança pública”.
Manipulação
Igor Fuser, doutor em Ciência Políticas e professor no curso de Relações Internacionais pela Universidade Federal do ABC (UFABC), avalia que a situação de Roraima é complexa “porque a presença do estado é pequena”. A chegada de um número grande imigrantes tem um impacto forte e constituiria “uma situação de impasse para as autoridades brasileiras”, contudo ele pontua que é necessário também ficar atendo à manipulação que a mídia faz sobre a situação dos imigrantes venezuelanos.
“Ocorre uma manipulação midiática muito forte desse tema dos venezuelanos, em função da realidade política da Venezuela e da realidade política do próprio Brasil. A Venezuela é um país que vive uma grande crise causada, principalmente, pela guerra econômica que é movida pelas elites locais, pela burguesia venezuelana contra um governo popular”, enfatiza.
Segundo o governo de Roraima a ação pede ainda que o Governo Federal acolha de forma humanitária os 50 mil venezuelanos que já estão no estado. Todos os dias cerca de 600 a 800 imigrantes cruzam a fronteira, grande parte, em busca de atendimento médico, o que tem sobrecarregado os hospitais, “que já não conseguem atender a demanda de brasileiros nem de venezuelanos. Faltam inclusive medicamentos”, conclui a nota.
Ainda segundo o professor a imigração dos venezuelanos é resultado também de um ataque externo de sabotagem à economia para “criar uma situação de escassez que venha a gerar descontentamento contra o governo e com isso a população inteira". Ele explica que o EUA, principalmente no governo de Donald Trump, tem utilizando de “mecanismos de poder na esfera internacional, que não são pequenos, para sufocar a economia da Venezuela. É um assédio financeiro que só encontra comparação com o bloqueio praticado contra Cuba”.
Na análise dele o discurso e as imagens que são apresentados pela mídia sobre os imigrantes, que numa situação de crise que o país vive de um processo revolucionário e sabotagem, servem de “justificativa para uma intervenção externa, como se a Venezuela vivesse um colapso, uma situação de caos, de desgoverno, o que não é verdade” e completa
“Então o sofrimento desses venezuelanos que vem para cá está sendo manipulado pela mídia com objetivos políticos de justificar uma intervenção externa contra o país soberano que é a Venezuela e também de servir de espantalho no Brasil nesse contexto de eleições de golpe, em que um maior líder popular que é o Lula está na prisão, tentando associar nas propostas de esquerda no Brasil com uma crise na Venezuela, apresentado aqui de uma forma exagerada e distorcida”.
Edição: Juca Guimarães