As memórias sobre o Assentamento Liberdade foram reviradas e as emoções formam uma espécie de combustível para a luta. Robinson Ayres, economista, militante dos Direitos Humanos e anistiado pela ditadura no Brasil, lembra com muito orgulho da ocupação das terras que hoje formam o Assentamento Liberdade, em Periquito/MG. Apesar da solidariedade e apoio que sempre teve ao movimento, a madrugada de 10 de março de 1998 foi sua primeira ação direta pelo Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), feita após estudos sobre a improdutividade daquelas terras que outrora atenderam à Acesita (atual Aperam Aços Inoxidáveis).
Para Vânia Maria de Oliveira, principal liderança do Liberdade, a solidariedade foi um fator fundamental tanto para a resistência nos momentos em que ainda eram acampados, porque haviam muitas crianças, a produção de alimentos era pouca e as condições financeiras muito precárias, as doações vindas do Vale do Aço garantiam o sustento das quase 400 famílias que estavam acampadas. Esse sentimento, ou essa índole de ser solidário é um ponto alto do MST e que para Vânia é o que garante a sobrevivência do movimento.
Hoje, além do plantio de hortaliças para abastecer feiras agroecológicas principalmente em Governador Valadares, há o viveiro de mudas para recuperação de áreas degradadas. O projeto “Semeando Agroflorestas”, surge como proposta para reflorestar áreas de ocupação do MST, mas já começa a expandir seu atendimento para demandas particulares, o que garante autonomia do projeto e sustento para as famílias de viveiristas que lá trabalham.
Região disputada
O histórico de luta por terras no leste de Minas Gerais é relativamente marcante. Ainda no período do Brasil colonial, por ser porta de entrada, via rio Doce, para região de Ouro Preto e Mariana, foram muitas as lutas entre exploradores e índios. Depois o estado de Minas Gerais disputou com Espírito Santo para que tivesse uma saída para o mar.
Nos últimos 60 anos, há conflitos por terras entre latifundiários e pequenos agricultores e Governador Valadares seria o marco inicial do projeto de Reforma Agrária proposto por João Goulart.
Ao longo dos 20 anos do Assentamento Liberdade, existem muitos momentos de lutas, memórias marcantes, muitas alegrias e apenas um fato triste, para ser lembrado, mas como exemplo para não ser repetido. O assassinato ainda não esclarecido do produtor Silvino Gouveia, que completou um ano em abril.
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Edição: Daniela Stefano