Diante de uma grave crise salarial, os sindicatos da Etiópia estão mobilizando os trabalhadores e as trabalhadoras da indústria têxtil e de confecção para reivindicar o estabelecimento de um salário mínimo para o setor. Atualmente, a maioria dos funcionários é obrigada a trabalhar por menos de 20 birres etíopes, o que equivale a menos de um dólar, ou cerca de R$ 2,70 por dia. Com o salário mensal de cerca de 600 birres (R$ 80), grande parte da classe trabalhadora do país tem dificuldade de atender necessidades básicas. Muitos são funcionários de outlets de marcas internacionais como H&M, Tchibo, Tommy Hilfiger e Calvin Klein.
A situação dos trabalhadores piorou desde a crise política de 2017 no país. No ano passado, centenas de pessoas foram mortas durante uma série de manifestações que abalaram o país, levando à instauração de um estado de emergência que se estendeu por 10 meses. O comércio regional e o setor de transporte sofreram grande impacto com a medida, intensificando ainda mais a miséria da classe trabalhadora que vive às margens da sociedade. Em fevereiro, um novo estado de emergência foi instaurado, devendo se estender pelo menos até agosto, e inclui a proibição de protestos e da produção e distribuição de publicações que o governo considere como "incitação à violência".
Os sindicatos estão em campanha contra os baixos salários e questões relacionadas a saúde e educação.
Com as tentativas de mobilização, mais de 600 mil trabalhadores e trabalhadoras se filiaram à Confederação de Sindicatos Etíopes (Confederation of Ethiopian Trade Unions – CETD).
O chefe de relações públicas e internacionais da CETD, Measho Berihu, apontou que “a confederação e os trabalhadores estão expostos a vários desafios. Por exemplo, a ausência de um piso afetou em especial os trabalhadores e as trabalhadoras de empresas privadas, que pagam alguns dos salários mais baixos do país. Além disso, não há uniformidade salarial de uma empresa para outra”.
Uma campanha encampada pela federação sindical internacional IndustriALL Global Union tem como alvo parques industriais criados pelo governo do primeiro-ministro Abiy Ahmed, incluindo Bole Lemi na capital do país, Addis Ababa, onde a confecção coreana Shints emprega 4.300 funcionários, sendo 3.800 sindicalizados.
“Os sindicatos veem o estabelecimento de um salário mínimo como ponto de partida para reverter a situação da baixa remuneração e exigem que sejam incluídos na nova legislação trabalhista que está em discussão. Posteriormente, os sindicatos querem que a campanha seja por salários dignos”, destacou a entidade.
A IndustriAll Global Union apontou ainda que os sindicatos estão em campanha por pisos acima de 3.373 birres (US$ 121). “Os salários atuais estão, em média, abaixo de US$ 50 por mês”, acrescentou.
Christina Hajagos-Clausen, diretora da IndustriALL para o setor têxtil e de confecção, afirmou que as entidades trabalhistas que estão em campanha salarial têm total apoio da organização. “Estamos promovendo acordos-quadro no setor para impedir que as marcas internacionais explorem mão de obra barata nos países em desenvolvimento. Um salário digno pode tirar o trabalhador da pobreza”, acrescentou.
Edição: The Dawn News | Tradução: Aline Scátola