Em Curitiba para participar de uma sabatina promovida por uma universidade, a pré-candidata do PCdoB à presidência da República, Manuela D’Ávila reconheceu a importância histórica dos documentos divulgados pela CIA sobre os assassinatos da ditadura militar, mas disse estranhar a surpresa com que se reagiu às confirmações dos crimes.
“Os documentos da CIA não são surpresa, porque nós fomos o partido que se tentou dizimar durante o processo da ditadura militar no Brasil. Não foram poucos os que morreram”, disse. “A revelação dos documentos é importante, confere validade histórica e científica, agora está documentado. Mas, a documentação para o PCdoB foi feita a balas. A documentação, para nós, já existia, pois nós perdemos os nossos, então a gente conhece essa história tatuada na pele, não precisava desses documentos da CIA”, acrescentou.
Manuela também refutou as declarações de que assim como o exército o PCdoB também evita tratar dos assuntos referentes à Guerrilha do Araguaia. “Eu não entendi os interesses por trás daquela manifestação esdrúxula. O PCdoB é um partido como os outros, pode ter seus limites, as pessoas podem apontar divergências programáticas conosco, mas existe algo no PCdoB que é inquestionável, até por adversários, que é nossa lealdade com os que construíram nossa história e nosso partido. Há um silêncio muito grande com relação à história do Araguaia, que, felizmente, nós do PCdoB não somos cúmplices”, disse. “Nós sempre falamos sempre o Araguaia, sempre contamos aos nossos sobre a Lapa, sempre falamos que muitas brasileiras e brasileiros morreram para que a democracia voltasse a existir”, acrescentou.
“Para nós, nunca foi ‘ditabranda’, porque o PCdoB perdeu sua direção quase que toda na chacina da Lapa. Para nós, nunca foi ‘ditabranda’ porque nós combatemos no Araguaia. E eu falo nós porque, mesmo tendo nascido depois do término do Araguaia, nós nos sentimos representantes daqueles que tombaram, seguiu a deputada federal.
D’Ávila ressaltou que, assim como no período da ditadura militar, as organizações sociais precisam lutar pela liberdade do povo neste momento pós-golpe. E, para ela, a vigília em Curitiba pode ser símbolo desta resistência. “Vivemos uma realidade de opressão, um processo de neocolonização com suas riquezas e ativos estratégicos sendo entregues a preço de banana. E pagamos a conta perdendo direitos trabalhistas, perdendo a previdência pública, com a privatização da Eletrobrás. E uma das dimensões da não garantia dessa liberdade é a prisão de Lula. Não existe como lutar pela liberdade de o Brasil se desenvolver enquanto nação sem associar essa luta à condição democrática. O caminho para o Brasil enfrentar a crise é com liberdade e direitos sociais para o nosso povo. Mas não tem como isso acontecer sem democracia e, por isso, lutar pela liberdade de Lula não é um detalhe, é mais que estratégico. Existem muitas razões para que se lute pela liberdade dele, mas a principal delas é que ele está preso sem nenhuma prova”, concluiu.
Edição: Laís Melo