Desde que a Venezuela começou a enfrentar uma onda de protestos violentos de grupos da extrema-direita, inflamados pela crise econômica que o país enfrenta há cerca de três anos, surgiram também comitês de solidariedade ao redor de todo o mundo.
No Brasil, o Comitê pela Paz na Venezuela foi formado em agosto de 2017, pouco depois da oposição Venezuela haver declarado o não reconhecimento das eleições para a Assembleia Nacional Constituinte, instaurada no mês anterior, através do voto popular.
A experiência dos comitês foi repetida em diversos países latino-americanos, como Argentina, Chile, Trinidade e Tobago, Panamá e Costa Rica.
Ronaldo Ortiz, coordenador da Frente Nacional de Defesa dos Direitos Econômicos e Sociais do Panamá, explica que a política no país centro-americano esteve historicamente submetida aos interesses dos Estados Unidos, principalmente depois da construção do canal do Panamá, inaugurado em 1914, o que, dialeticamente, tem gerado um sentimento antiimperialista no povo panamenho.
"A solidariedade que nós desenvolvemos com o povo irmão e com o governo venezuelano se justifica em razão dessa grande luta de liberação, dessa luta patriótica que a Venezuela vem travando. Nós, como povo, como organizações solidárias, nos unimos a esse grande processo que a Venezuela lidera, já que ela nos representa na luta pela autodeterminação e liberação nacional e social", afirma Ortiz.
Nos Estados Unidos, estão programados atos em Los Angeles, São Francisco e Washington. A ativista e militante do Partido Socialismo e Libertação (PSL) estadunidense Gloria La Riva destaca a importância dos atos de apoio ao povo venezuelano, no contexto das eleições presidenciais do dia 20 de maio.
“É mais necessário do que nunca a solidariedade, mostrar o que está acontecendo. Porque algumas pessoas não entendem o que está em jogo, o futuro da América Latina. Alguns criticam sem conhecer realmente os grandes desafios para a Venezuela, em meio a uma forte guerra econômica. Quando explicamos aos jovens que estão se somando à luta socialista e progressista, e quando perguntam sobre a Venezuela, é fácil entender a Revolução, os desafios, as conquistas, a visão dos socialistas. Só temos que continuar persistindo", explica La Riva.
Guerra narrativa
Na Europa, diversos países também se mobilizam contra a violência da direita e em defesa da soberania e autodeterminação do povo venezuelano, entre eles, França, Bélgica, Suécia, Suíça, Alemanha, Espanha e Itália. Antonio Cipolletta, internacionalista e militante de movimentos populares italianos conta que os primeiros movimentos de solidariedade dos trabalhadores italianos com a Revolução Bolivariana surgiram ainda em 2002, depois do golpe de estado sofrido pelo ex-presidente Hugo Chávez.
“Nosso papel nesse momento é confirmar, incrementar, intensificar o trabalho de solidariedade internacionalista para enfrentar as arremetidas dos poderes fáticos e da imprensa hegemônica mundial", disse Cipolleta.
Morador da cidade italiana de Nápoles, ele afirma que a tarefa do comitê de solidariedade tem se concentrado numa estratégia de comunicação para se contrapor ao discurso hegemônico da imprensa europeia, na maioria das vezes, hostil ao governo venezuelano. “No meu país, a Itália, e praticamente em toda a Europa, com exceção de alguns jornais da imprensa alternativa, apresentam a Venezuela como um país colapsado, que não tem nada a ver com a democracia. No meu país, quando os jornais falam do tema da Venezuela, sempre usam todos esses esteriótipos".
Ronnie Ramírez mora em Bruxelas, na Bélgica, onde também há uma organização dedicada à solidariedade ao povo venezuelano, chamada Venesol. Ele lembra que, apesar da capital belga acolher sedes de entidades pró-imperialistas, como a OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte) e o Parlamento Europeu, há uma forte comoção popular em solidariedade à Venezuela. “Sob esses edifícios, também há cidadãos que se comovem e se sentem identificados com os processos de mudanças que estão acontecendo na América Latina e sobretudo na Venezuela, que está na vanguarda desse processo", afirmou.
Ramírez destaca ainda a importância dos movimentos de apoio ao povo venezuelano, nas vésperas das eleições presidenciais no país sul-americano. “Especialmente no contexto das eleições presidenciais, a ofensiva da direita fica mais aguda, já que parte da estratégia do império é fazer o mundo acreditar que na Venezuela não há democracia. Portanto, nossa contraofensiva é restabelecer a verdade e agora estamos dedicados a esta tarefa".
As eleições presidenciais na Venezuela, marcadas para o próximo domingo (20), tem despertado mais uma vez a solidariedade desses grupos. Mobilizações estão sendo convocadas em diversos países dos cinco continentes. No Brasil, um ato e panfletagem estão marcadas para acontecer em São Paulo, na região da avenida Paulista, à partir das 11h deste domingo, em frente ao Conjunto Nacional.
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Edição: Pedro Ribeiro Nogueira