Soa o “Toque de Diana” e os venezuelanos já sabem, é dia de eleição. A canção militar transmitida por caminhões da Força Armada Nacional Bolivariana (FANB) é mais um detalhe da boa relação que o povo venezuelano tem e consegue cultivar entre uma forte democracia e a academia militar. Aqui são os militares que chamam o povo a votar.
As eleições começaram hoje, às seis horas da manhã (hora local) e segue até às 18h. Cerca de 14 mil centros eleitorais estarão abertos para receber os quase 20 milhões de votantes, que escolherão um novo presidente e 251 deputados de conselhos legislativos estaduais e municipais. Destes, oito são eleitos apenas pelas comunidades indígenas dos estados de Amazonas, Anzoátegui, Apure, Bolívar, Delta, Amacuro, Monaguas, Mérida, Trujillo, Sucre e Zulia para lhes representar.
Apesar de o voto não ser obrigatório, na Venezuela, os cidadãos tem alta participação eleitoral. Nos últimos pleitos, os números giraram em torno de 80% de presença. A cultura do voto foi fortalecida nos anos de governo chavista – em 20 anos, são 25 processos eleitorais.
“Nós, os venezuelanos e venezuelanas votamos em todas as eleições, desde que Chávez assumiu. Não falhamos e não falharemos, porque aqui não há ninguém que venha de outro país nos dizer que não vamos votar. Não somos brasileiros, não somos argentinos, somos venezuelanos: índios, guerreiros, bolivarianos, chavistas e zamoristas”, afirma a aposentada Sônia Iturbe.
Sistema eleitoral mais seguro das Américas
Durante as 12 horas de sufrágio, os venezuelanos depositam seu votos sob a vistoria de mais de 200 observadores internacionais. Essa é apenas umas das razões pelas quais o sistema eleitoral venezuelano foi considerado o mais seguro do continente americano pelo Conselho de Especialistas Eleitorais da América Latina.
Outra peculiaridade são as 23 auditorias antes, durante e depois da votação, feitas por representantes do Conselho Nacional Eleitoral (a instância máxima eleitoral do país), dos partidos que disputam a eleição e dos observadores convidados. Também, ao final do processo, 54% dos votos são recontados, sempre comparando o resultado registrado nas urnas eletrônicas com os comprovantes impressos depositados em urnas a parte.
Na disputa presidencial concorrem cinco candidatos: o atual presidente, Nicolás Maduro, do Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV), com 48,4% de intenção de votos; Henri Falcón, da Avançada Progressista – quarta força política opositora – que tem 36,3% do apoio do eleitorado; seguidos pelo pastor evangélico do Esperança pela Mudança Javier Bertucci, com 11,7% e 1,1% de Reinaldo Quijada, da Unidade Política Popular 89. Há duas semanas, o sexto candidato que disputava este pleito, Luís Ratti, retirou-se para apoiar Falcón.
Maduro votou cedo, logo ao abrirem as urnas, na região oeste de Caracas, Escola Bolivariana Miguel Antônio Caro. Enquanto seu principal adversário, Henri Falcón vota no estado Lara, onde governou por oito anos.
Oposição confiante
Na última semana de campanha, o segundo colocado Henri Falcón solicitou às autoridades eleitorais a proibição da instalação, durante o dia 20 de maio, dos "Puntos Rojos" - pontos de encontro do PSUV em frente aos colégios eleitorais - e pontos de emissão do "Carnet de la Patria", cartão ofertado pelo governo que dá acesso a bônus e programas sociais.
Durante um dos seus comícios, na cidade de Maracaibo, norte do país, Falcón afirmou que seu primeiro decreto governamental será para conformar seu governo e que já tem vice definido. Seria Claudio Fermín, ex-prefeito de Caracas e atual chefe de campanha do presidenciável.
O ex- governador acredita que uma vantagem é o fato de ter sido chavista, mas desde 2010 ter rompido com o governo e assumido o lado opositor, o que faz com que receba votos de ambos lados, mas a realidade mostra que a carreira política camaleônica também gera rechaço. Do lado chavista, os eleitores reprovam a dolarização da economia – principal proposta da campanha da Avançada Progressista. Enquanto isso, os principais partidos de oposição, a Mesa de Unidade Democrática (MUD) e o Comitê de Organização Política Eleitoral Independente (COPEI) afirmam que Falcón é o candidato “disfarçado do chavismo”.
Apesar de perder as eleições, segundo todas as pesquisas eleitorais, o candidato segue confiante e escreveu no último de campanha, em suas redes sociais, “Neste 20 de maio vamos derrotar Maduro com seu vantagismo, o Conselho Nacional Eleitoral, os abstencionistas e todos os obstáculos interpostos para alcançar a mudança que reclama toda a maioria da Venezuela”.
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Edição: Pedro Ribeiro Nogueira