Campanha salarial

Universidades paulistas declaram greve contra arrocho de 12%

Conselho de Reitores encaminhou proposta de reajuste salarial de apenas 1,5% para este ano

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |

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Manifestação de alunos, estudantes e professores da USP, em 2014
Manifestação de alunos, estudantes e professores da USP, em 2014 - Foto: Marcello Casal Jr/Abr

Docentes, trabalhadores e estudantes das três universidades estaduais paulistas --USP, Unicamp e Unesp-- realizam ato político conjunto, nesta terça-feira (29), contra o reajuste salarial de apenas 1,5% proposto pelo Conselho de Reitores das Universidades Estaduais Paulistas (Creusp).

Os protestos ocorrerão enquanto os conselhos universitários, considerados ambientes favoráveis às indicações dos reitores, avaliam a proposta.

As universidades estaduais vinham sob campanha salarial nas últimas semanas, com indicativo de paralisação e greve em todos os setores. Os trabalhadores representados pelo Sindicato de Trabalhadores da Unicamp (STU) estão parados desde 22 de maio, e os trabalhadores da USP estão paralisados com indicativo de greve a ser avaliado na próxima assembleia da categoria. Os docentes da Unesp também participarão da paralisação.

Na avaliação de João Raimundo Mendonça de Souza, diretor do STU, a proposta de reajuste de 1,5% é inaceitável. Ele explica que a verba repassada para as universidades tem origem no Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), mas, apesar do aumento do imposto, não há uma aplicação equivalente nas políticas universitárias.

Perda salarial

“Nos três últimos anos, nós não tivemos reposição da inflação, ou tivemos reposição abaixo da inflação. Estamos acumulando uma perda salarial de 12,6%. Queremos fazer essa discussão levando em consideração os elementos que estão sendo envolvidos com a arrecadação, porque esse ano está tendo crescimento da arrecadação do ICMS, então precisávamos compor uma discussão de reajuste salarial com base nisso”, afirma Mendonça de Souza. 

Para o dirigente, é necessário que os trabalhadores também tenham uma postura critica em relação aos próprios reitores. “Tem um outro elemento aí, que é uma certa postura combinada entre os reitores de aceitar que o governo do Estado deixe de passar recurso para as universidades, e assim vão ajustando a universidade em torno dessa situação. Temos cobrado os reitores para que tenham uma postura mais firme em defesa da universidade”.

Segundo Rodrigo Ricupero, presidente da Associação de Docentes da USP (Adusp), a possibilidade de uma intensa greve unificada nas três universidades estaduais é muito grande. “Eles não negociam com os sindicatos, estabelecem um número e pronto. No fundo é uma malandragem da reitoria porque ela aprova o que quer, já que o Conselho [Universitário] tende a ser um ambiente favorável ao reitor”, diz o docente.

Ricupero também critica a precarização da educação por consequência de um grande crescimento das universidades, mas sem verbas suficientes destinadas para as estaduais. “Quando teve a retração do ICMS isso ficou visível. A reitoria tem aplicado uma política de arrocho salarial para fazer face a suas dificuldades financeiras. A própria universidade está em risco de perder a qualidade por conta dessa política. Não é só o salário, o salário é a ponta do iceberg, a carreira dos funcionários e professores é cada vez menos interessante porque tem toda uma destruição que começa pelos salários”, afirma.

Além dos docentes e dos servidores, estudantes da USP também estão paralisados em apoio aos trabalhadores e reivindicam pautas específicas relacionadas. A mobilidade dentro campus é uma delas, já que quatro linhas que circulam dentro do campus USP-Butantã serão cortadas pela gestão do PSDB à frente da prefeitura de São Paulo.

Os estudantes pedem uma reunião de emergência com a participação da SPTrans, reitoria da USP e Diretório Central dos Estudantes (DCE) para avaliar a situação. A liberação de verba para o Hospital Universitário e a expansão de vagas do Conjunto Residencial da USP (Crusp) são outros pontos centrais das reivindicações estudantis. 

Boicote

Tanto Ricupero quanto Mendonça de Souza avaliam que o cancelamento das aulas na semana da votação do ajuste salarial tiveram motivações para além da crise de combustíveis e das greves de caminhoneiros que assolaram o país nos últimos dias. Para os sindicalistas, é claro que há um certo oportunismo e tentativa de esvaziar o movimento.

“Esse tipo de postura só vai intensificar a greve e a mobilização. A nossa expectativa é que tenha uma negociação e que se esgote todo o debate dos números, dos orçamentos, das pesquisas. Isso que os reitores estão fazendo não resolve a situação e só intensifica a greve”, comenta Mendonça de Souza.

Edição: Diego Sartorato