Em meio à incerteza e perplexidade causada pelos efeitos da mobilização dos caminhoneiros, assistimos aos prejuízos causados a toda uma sociedade fragmentada e desnorteada por um governo ilegítimo e irresponsável.
Se a pauta dos caminhoneiros, considerados de forma ampla, parece ser justa, a composição heterogênea da paralisação e a pulverização de lideranças, cada uma atuando em defesa de interesses diversos, torna difícil um entendimento mais consistente e consolidado do que seria a mola propulsora deste movimento.
Mais fácil, porém, a análise das causas que fizeram eclodir a insatisfação de quem tem o diesel como insumo básico para sua atividade profissional e das consequências para quem não depende diretamente dele.
Uma política entreguista que aplica uma estratégia comercial irresponsável e não só desvinculada do interesse nacional mas, também, completamente submissa a interesses estrangeiros é o que nos trouxe até essa quadra de desordem e convulsão social.
Essa política também se faz sentir em relação a outras estatais, entre as quais Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal e Correios, por exemplo. O desmantelamento de empresas que já figuraram entre as mais rentáveis e confiáveis na visão do povo brasileiro, algumas altamente rentáveis, inclusive, tem em sua origem a mesma irresponsabilidade com os interesses nacionais e o total descaso com a necessidade de atendimento das demandas públicas, papel primordial do Estado.
Hoje, aqueles que clamam por Estado Mínimo e regulação através da diáfana "mão invisível" do livre mercado têm uma amostra do que representa aquilo que estão pedindo. A pergunta que fica é se é esse tipo de "evolução" que realmente desejamos para nossa sociedade.
É hora de repensarmos atitudes do passado recente e nos unirmos para salvar a possibilidade de construção de uma nação forte e soberana que tenhamos orgulho de legar às gerações futuras. Do contrário, se continuarmos nos rendendo ao medo incutido por uma gestão que, em todos os níveis, se utiliza do terror para paralisar qualquer atitude de resistência, o que nos aguarda é a barbárie.
Helberth Ávila é advogado e funcionário do Banco do Brasil
Edição: Joana Tavares