Em dezembro de 2008, no auge da euforia da descoberta de grande volume de petróleo abaixo do leito do mar nas bacias de Santos e Campos, o Sindicato dos Servidores Públicos Federais de Pernambuco (Sindsep-PE) sediou um seminário sobre a importância do pré-Sal, evento promovido pela Central Única dos Trabalhadores (CUT PE) e pelo Sindicato dos Petroleiros (Sindpetro-PE/PB). A ideia na época foi discutir um modelo de marco regulatório para exploração dessas jazidas, já que aquela fora a maior descoberta mundial do setor energético nos últimos 50 anos e colocou o país na lista dos maiores produtores, tais como a Venezuela e Arábia Saudita.
Não esqueço das palavras do então coordenador geral da Federação Única dos Petroleiros (FUP), João Antônio de Moraes. Ao defender uma legislação que beneficiasse de fato o povo brasileiro, com monopólio da Petrobras e longe das petrolíferas multinacionais, principalmente as americanas, ele fez um alerta. Os países produtores de petróleo são alvo de ataques internacionais na guerra incansável e cruel pelo petróleo.
Durante os governos do PT, o marco regulatório da exploração do pré-sal nas bacias de Santos e Campos foi exaustivamente discutido. Sendo necessário por fim o aval dos parlamentares, a então presidente Dilma Rousseff enviou ao Congresso uma legislação que garantia ao menos o controle da exploração por parte da Petrobras e parte dos recursos obtidos seriam destinados para a saúde e educação.
Poderia ser a nossa redenção, se Moraes, lá no passado, durante seminário no Sindsep-PE, não tivesse com a razão. Em 2013, o site WikiLeaks revelou que Dilma Rousseff, políticos do PT e executivos da Petrobras haviam sido espionados pela Agência Nacional de Segurança dos Estados Unidos. Na época, a notícia gerou uma crise diplomática entre os dois países e o fato até agora não foi esclarecido. Qual era o interesse dos EUA?
Em 2014, contra a vontade da mídia e dos demais setores conservadores nacionais e internacionais, Dilma Rousseff é reeleita pelo voto do povo brasileiro. Em 2016, mesmo sem crime fiscal, mas sob o argumento de perda da governabilidade, a presidente legitimamente eleita com mais de 54 milhões de votos, é impeachmada.
Com a sua saída, uma das primeiras medidas a serem tomadas pelos golpistas no Congresso foi mudar o marco regulatório do pré-sal, tirando os recursos da educação e saúde e o controle da exploração das mãos da Petrobras, naquelas alturas, alvo da operação Lava Jato, capitaneada pela Justiça de Curitiba, convidada para eventos internacionais promovidos por petrolíferas, essas mesmas que passaram a controlar o pré-sal no país.
Com a possibilidade de Lula voltar à Presidência do Brasil e desfazer os ataques dos golpistas à soberania nacional e aos direitos da classe trabalhadora, ele é preso, dentro da Operação Lava Jato, por suposta propriedade de um tríplex no Guarujá que não é seu.
Há mais de uma semana, caminhoneiros paralisaram rodovias, pedindo a redução do Diesel (só do Diesel). Com apoio dos empresários, o movimento pode se configurar como um locaute (greve de patrões). A Petrobras é mais uma vez o alvo. Não se discute o modelo de exploração do petróleo, apenas os preços.
De certo, o locaute perdeu o controle e vários setores, legitimamente da classe trabalhadora e da sociedade civil, se manifestaram. Os petroleiros, com mobilização já em curso, anunciaram paralisação. Dessa vez, pedindo a redução do preço dos combustíveis em geral, não só do Diessel, mas da gasolina, do etanol e do gás de cozinha. E, acima de tudo, do controle do pré-sal e de todo o petróleo para a Petrobras.
A Petrobras é nossa. Segundo a FUP, as refinarias estão com, no mínimo, 40% de ociosidade. O governo Temer está inutilizando as refinarias, exportando petróleo cru (a preço de banana), e importando os combustíveis (a peso de ouro).
O Brasil sofreu um golpe em 2016. Os setores conservadores sabem que não ganham mais nas urnas, prenderam Lula (líder nas pesquisas presidenciais), estão tentando desestabilizar o país e acabar com a Petrobras. Por fim, na semana passada, a ministra Carmem Lúcia traz à pauta, do Supremo Tribunal Federal (STF), o parlamentarismo. Precisa falar mais alguma coisa?
*José Carlos de Oliveira é formado em Administração de Empresas, servidor do Ministério do Trabalho e atual coordenador geral do Sindicato dos Servidores Públicos Federais no Estado de Pernambuco (Sindsep-PE).
Edição: Monyse Ravena