Milhares de pessoas ocuparam a Avenida Paulista, em São Paulo, para participar da 22ª edição da Parada do Orgulho LGBT neste domingo (3). Com o tema “Poder para LGBTI+, Nosso Voto, Nossa Voz”, o evento chamou a atenção para as eleições deste ano, para o respeito às diferenças e se posicionou contra a violência.
A arquiteta Mônica Tereza Benício, víuva da vereadora Marielle Franco (PSOL-RJ), assassinada no Rio de Janeiro em 14 de março deste ano, participou da abertura da Parada, ao lado da Drag Queen Tchaka, que comandou o principal trio elétrico do evento. Emocionada, Mônica reforçou o legado e atuação política de Marielle na defesa dos direitos humanos.
“A gente não pode mais admitir que as nossas vidas sejam ceifadas da maneira que são. Marielle era uma mulher negra, favelada, lésbica, que foi assassinada, sobretudo, porque carregava no corpo todas as pautas que defendia, todas as bandeiras dos direitos humanos”, enfatizou Mônica, aplaudida por centenas de vozes emocionadas que repetiam: “Marielle, presente!”.
Na concentração da marcha, Tchaka puxou um “Fora Temer”, grito que foi ecoado por toda a Avenida Paulista. Ela falou ainda do preconceito diário que os homossexuais enfrentam. "Os LGBTs não podem doar sangue só por serem LGBTs. Precisamos continuar na luta para que isso possa mudar”.
A deputada estadual Leci Brandão (PCdoB-SP), negra e lésbica, relatou a situação de violência contra a população LGBT no Brasil.
“Essa é a maior Parada do mundo. Entretanto, o Brasil é o país que mais mata o segmento LGBT, que mais assassina travestis e transexuais. A gente tem que ter política pública para que a segurança proteja esse evento, as pessoas. Não tenham vergonha de nada. Vocês são maravilhosos, poderosos e acima de tudo, cidadãos brasileiros”, declarou a cantora e parlamentar.
Segundo o dossiê “A carne mais barata do mercado”, lançado no início deste ano, uma pessoa trans é assassinada a cada 48 horas. Nos seis primeiros meses de 2018, o país já contabiliza 71 assassinatos.
O deputado federal Ivan Valente (PSOL-SP) acredita que a violação aos direitos cresceu no governo Temer e é preciso que a resposta ao retrocesso venha das ruas. “Não poderíamos deixar de dar uma demonstração de força, que é o que o movimento LGBT está dando aqui. É um momento em que o preconceito e o ódio se transforma em violência nesse governo conservador do Temer. É um retrocesso o que estamos assistindo".
Representatividade
O evento teve também a participação de parlamentares do PT e PV, além de diversos movimentos organizados. Com faixas explicando “Crianças LGBTs existem”, o coletivo Mães pela Diversidade, que desenvolve um trabalho de apoio a outros jovens que foram expulsos de casa pelos pais devido sua orientação sexual, também passaram seu recado.
Clarice Cruz Pires, uma das coordenadoras do coletivo, afirma que o acolhimento familiar é essencial.
"Ninguém vai optar por sofrer, porque o preconceito é muito grande, o crime de ódio é muito grande. O meu filho foi uma criança LGBT, ele nasceu gay, não 'virou' gay. Muitas vezes os pais não entendem. Os nossos filhos têm mãe, pai, irmão, eles votam, trabalham, estudam. A única diferença do LGBT para um hetero é que ele ama um igual a ele. Mas é amor, não deixa de ser amor”, conta Clarice.
Ativistas em defesa do povo palestino aproveitaram a atividade para denunciar a estratégia Pink Washing, utilizada pelo Estado de Israel, que usa o discurso “LGBT friendly”. Lucas Alonso, da FFIPP Brasil (Educational Network for Human Rights in Palestine/Israel), rede educacional que atua pelos direitos humanos na Palestina e Israel, explica que o Estado israelense passa a imagem de defensor da causa LGBT e joga fumaça sobre suas ações genocidas contra a Palestina.
“LGBTs do mundo inteiro vão para Israel, para Parada em Tel Aviv, mas nem estão sabendo que tem gente sendo morta ali em Gaza. Além da luta pelos direitos humanos globais, nossa bandeira é usada para mascarar crimes de direitos humanos, atrocidades que são cometidas no Estado de Israel”, analisa Alonso.
Voto LGBT
Silvia Cavalleiro, mulher trans e vice-presidenta da União Nacional LGBT (UNA), destaca que a representatividade importa muito na hora de escolher o candidato e o tema da Parada dá esse recado para a sociedade brasileira. “Nós queremos também dialogar sobre políticas públicas, políticas sociais, sobre acesso à educação, saúde e segurança pública. Porque nós também exercemos nossa cidadania, nossos deveres, o mínimo que nós devemos ter são direitos iguais e garantidos”, reforça.
Mais que impulsionar a participação LGBT na política, a dirigente reforça que é urgente analisar os candidatos com cuidado. “Nós temos que visibilizar as candidatas e candidatos que dão apoio às nossas pautas, como Manuela D'ávila, o ex-presidente Lula, como Guilherme Boulos e Ciro Gomes”, cita.
Organizado pela Associação da Parada do Orgulho de Gays, Lésbicas, Bissexuais e Transgêneros de São Paulo (APOGLBT), o evento teve grandes nomes entre suas principais atrações como Pabllo Vittar, Preta Gil, Anitta, Lia Clark, April Carrión (de RuPaul’s Drag Race) e Mulher Pepita.
Dezoito trios elétricos saíram da Avenida Paulista, passando pela Rua da Consolação e encerraram evento no Vale do Anhangabaú, com shows do Banana Split, Fíakra e Jade Baraldo.
Edição: Cecília Figueiredo