Sem o uso de agrotóxicos ou adubo, os grãos são plantados à moda antiga, resgatando tradições de outras gerações
Foi ouvindo seu pai falar em sementes crioulas que o acampado Jair Gomes aprendeu a importância de preservar os grãos e consumir uma alimentação de melhor valor nutricional. Com medo das doenças causadas pelo uso de agrotóxicos na agricultura, ele ensinava aos seus filhos a plantar e colher de modo natural.
“Eu já venho nessa tradição. Tenho cinquenta e trÊs anos e meu pai mexia com semente crioula. Ele falava que era para gente continuar no mesmo ritmo dele, sem veneno. Hojea gente planta na enxada, campina e colhe sem máquina, só no braço”.
As sementes crioulas possuem um grande valor histórico, cultural e social, mantendo a tradição da passagem de sementes de geração para geração.
Assim como aprendeu com seus ancestrais, Jair já ensina aos seus filhos e netos a importância da utilização das sementes crioulas. Para plantar as sementes crioulas é preciso ficar atento a localização, pois em regiões vizinhas ao agronegócio transgênicos, pode haver contaminação da lavoura e o alimento deixar de ser puro.
Os pequenos produtores e camponeses sabem que sempre correm o risco de perder a colheita por estarem sujeitos a alguns fatores como a realidade do solo e o ataque de pragas. Para isso, a solução muitas vezes encontrada está nos meios alternativos e naturais.
As boas terras do acampamento Dom Tomás Balduíno, na cidade de Formosa, em Goiás, já garantiram a colheita de várias espécies, entre elas feijão, milho, abóbora, cana, amendoim e gergelim.
Por enquanto, os alimentos colhidos em uma pequena área de 7 alqueires, divididos para cento e quinze acampados, servem apenas para consumo próprio e para alimentar os porcos e as galinhas.
Desde a elaboração do projeto do assentamento a ideia é trabalhar com as sementes agroecológicas, e apesar da resistência inicial de alguns membros, hoje todos aceitam bem a proposta.
As primeiras sementes crioulas chegaram de um banco de sementes de Catalão. Em seguida foram realizados testes para ver quais as espécies se adaptaram melhor e a cada ano tem sido notado evolução nos alimentos colhidos. A dirigente da Microrregião do Dom Tomás Fonseca, Maria Moreira, afirma que a opção por esse tipo de semente visa um futuro mais saudável para os moradores da região.
“Essas sementes crioulas são importantes por resgatar a tradição antiga. Além disso, é uma semente que você consome sem dúvidas ou medo. Essa semente é resistente à praga e a terra, não precisa trabalhar com adubo ou veneno, esse é o melhor caminho para gente, mesmo que não tenha futuro para gente que está velho, nossos filhos e netos vão desfrutar disso”,
Além de feijão, milho abóbora, cana, amendoim e gergelim, a mandioca também já está sendo comercializada pelo acampamento Tomas Balduíno.
Edição: Guilherme Henrique