Quem nunca sonhou em entrar em um túnel do tempo? Os curitibanos podem experimentar esta sensação durante a 17ª Jornada de Agroecologia, realizada até sábado (9) em Curitiba (PR). Ao entrar no túnel, montado no pátio da Reitoria da Universidade Federal do Paraná (UFPR), o visitante conhece a história do campo, da luta pela Reforma Agrária, da agricultura familiar e da produção agroecológica. O projeto foi elaborado por estudantes e professores de escolas estaduais do campo do Paraná.
A resistência dos povos na luta por uma agricultura saudável está na boca dos adolescentes que conduzem a história dentro do Túnel. Com 17 anos, Andrielle destaca a participação dos jovens desde o processo de pesquisa até a apresentação: “A gente tem importância dentro dos acampamentos e dos assentamentos. Foi orientado para que os alunos fizessem as apresentações”, conta a moradora do assentamento Egídio Brunetto, em Rio Branco do Ivaí.
A história da agricultura na Mesopotâmia, por exemplo, é contada pela estudante do Colégio do Campo 1° de Setembro, Andrielle Pereira. Ela fala sobre a técnica de utilização da água da chuva para o plantio, sobre o impacto da descoberta da roda e da utilização do arado na agricultura no período.
Já o processo de exploração da terra, a escravização dos povos e libertação, é ilustrado em um painel de fotos e narrado pela Suelen da Silva, moradora do assentamento Eli Vive, em Londrina. “Aqui é a vida coletiva”, diz Suelen apontando para algumas fotos. “As pessoas estavam todas em comunhão, sobrevivendo da caça. Daí, eles descobrem a agricultura. Lá começa a exploração. Alguns se apropriam das terras e colocam as pessoas para trabalhar mais. Aí, eles se revoltam e geram a rebelião. Daí é bem legal! Assim, eles conseguem a liberdade”, conclui.
Seguindo pelo Túnel do Tempo, aprende-se sobre a agricultura no sistema feudal, onde é exibida uma maquete que mostra a desigual distribuição das terras e uma estudante relata o processo de exploração do trabalho do camponês. Mais adiante, depara-se com um enorme painel sobre a agricultura na África Subsaariana, também chamada de África Negra. Falam sobre os processos de luta e resistência do povo africano e contam sobre o período anterior ao processo de escravização e invasão pelo branco europeu, onde a agricultura era autossustentável.
Os jovens logo apontam as contradições do agronegócio hoje: “Às vezes o povo padece pela fome, não por falta de produção de alimento, mas pela falta de produção para a subsistência”, explica Sara Barreto, da direção auxiliar do Colégio Estadual do Campo Iraci Salete Strozak, em Rio Bonito do Iguaçu.
Leocir Ribeiro, da Escola Itinerante Vagner Lopes, fala sobre os impactos gerados pelo uso dos agrotóxicos no Brasil, criticando a chamada “Revolução Verde”. Segundo o estudante, este modelo de agronegócios tem envenenado o solo, poluído a água, derrubado florestas e substituído as sementes por transgênicas, sob o pretexto de produtividade em curto prazo. “Com a desculpa de acabar com a fome. Só que isso não aconteceu”, afirma o estudante que mora no Acampamento Dom Tomás Balduino, de Quedas do Iguaçu.
Um dos coordenadores do projeto, Valter de Jesus Leite, conta que o Túnel do Tempo está em sua 3ª edição e vem se enraizando como uma cultura das Jornadas de Agroecologia. Valter destaca que este é um elemento de diálogo e de tradução de determinados temas que são fundamentais para um projeto de agricultura ecológica. “Tenta traduzir o olhar dos povos do campo sobre a produção de alimentos. É necessário dialogar com a sociedade a respeito daquilo que se come”, avalia.
No final do percurso são muitas as reflexões sobre a reconstrução de um projeto popular para o país. O Túnel do Tempo está aberto para visitação gratuita até domingo (9), no pátio da Reitoria da UFPR.
Edição: Laís Melo