Um ato realizado na cidade de Contagem, região metropolitana de Belo Horizonte, Minas Gerais, na última sexta-feira (8), serviu para oficializar de vez a candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva à Presidência da República pelo Partido dos Trabalhadores (PT).
Mesmo preso há mais de dois meses na sede da Superintendência da Polícia Federal em Curitiba, as recentes pesquisas de intenção de voto colocam Lula na dianteira da preferência do eleitorado em todos os cenários avaliados. Mas como o PT fará uma campanha com seu candidato preso?
Essa é uma das questões abordadas pela senadora e presidenta nacional da legenda, Gleisi Hoffmann, em entrevista exclusiva desta segunda-feira (11) ao Brasil de Fato. Confira:
Brasil de Fato - Senadora, como o PT pretende tocar uma campanha eleitoral com um candidato preso?
Gleisi Hoffmann - O Lula é muito grande e muito conhecido no Brasil. Aliás, o nome Lula já é um programa de governo. Então quando a gente fala de Lula, as pessoas sabem de quem estamos falando, sabem o significado para a vida delas, sabem o que estamos propondo.
Então, fazer a campanha de Lula, mesmo sem ele, não é algo difícil, complexo, como seria caso tivéssemos que apresentar um outro candidato que teria que se tornar conhecido. Lula é o que tem de mais claro na lembrança do povo brasileiro, pelo legado que ele deixou.
Como seria viabilizada a participação dele nos debates e sabatinas?
Ele tem direitos como pré-candidato. Nós estamos já solicitando à juíza da execução penal o direito de Lula dar as entrevistas, falar com os jornais, e também de nós gravarmos falas dele para que possam ser utilizadas nessa fase. Em relação aos debates da época da campanha eleitoral propriamente dita, nós vamos ter que ver qual é o formato. Mas ele tem direito a participar.
O que dá pra adiantar do plano de governo que está sendo construído para essa campanha?
Nós temos várias propostas. Muitas delas remetem a programas e projetos que nós já desenvolvemos no Brasil. A continuidade deles ou o resgate. A principal proposta de Lula é resgatar a dignidade do povo brasileiro, ou seja, trazer paz social através de justiça social. Emprego para a população, investimento público reforçado, programas sociais reforçados, a inserção do Brasil de novo no campo internacional de maneira ativa e altiva, tentar reverter as privatizações iniciadas em setores estratégicos, como a Petrobras, não permitir a privatização da Eletrobras nem da Caixa Econômica, nem do Banco do Brasil, nem do BNDES, resgatar o papel ativo dessas instituições na condução do desenvolvimento econômico brasileiro. Enfim, o foco é melhorar as condições de vida do povo brasileiro, dando oportunidades.
Como a senhora avalia o outro lado, ou seja, o projeto e os representantes do campo da direita ou centro-direita brasileira?
O nome mais forte da direita é um nome de extrema-direita, o Bolsonaro. Um candidato que não tem proposta alguma para o país, a não ser armar a população e pregar a violência. Essa é a proposta dele. Mas não sabemos o que ele pensa sobre economia, sobre emprego, sobre as áreas sociais, sobre as estatais, sobre as política internacional.
A chamada centro-direita está esfacelada. É o pessoal que apoiou o Temer no golpe. Aliás, Bolsonaro também apoiou. Mas o Alckmin e o PSDB foram a cabeça do golpe. Essa gente está junto com o Temer até o último fio de cabelo. Então eles não têm o que apresentar para o Brasil. O que eles têm para apresentar é o que já fizeram, que é essa tragédia que está aí. Ou seja, uma política neoliberal elevada à décima potência, aplicada em um país como o Brasil, que é um país com dificuldade de desenvolvimento, com a maioria do povo pobre, passando necessidade. Isso é o que eles defendem.
Eles não têm projeto, não têm programa. O nome deles não sobe. Vai ser muito, muito difícil que eles tenham um nome no segundo turno. A menos que eles consigam vencer Bolsonaro. Não sei se têm instrumentos pra isso. O povo não quer essa política que eles estão fazendo.
A principal proposta de Lula é resgatar a dignidade do povo brasileiro, ou seja, trazer paz social através de justiça social. Emprego para a população, investimento público reforçado, programas sociais reforçados, a inserção do Brasil de novo no campo internacional de maneira ativa e altiva, tentar reverter as privatizações iniciadas em setores estratégicos
Há setores dentro do PT que tem defendido a definição de um apoio a outro candidato do campo da esquerda. Falava-se inclusive de um levante de parte da dirigência. Como esse debate tem ocorrido no interior do partido?
Acho que esse movimento já se arrefeceu. Houve um movimento, tocado principalmente pelos governadores. E eu acredito que eles fizeram isso muito porque estão numa tensão pré-eleitoral, querem fechar suas coligações. Mas eles já entenderam que essa é uma posição descabida e não tem condições de acontecer. Nós temos uma decisão do 6º Congresso do PT, temos reiteradas decisões do diretório nacional de registrar a candidatura do Lula e levá-la adiante.
Por tudo que já dissemos: porque Lula é inocente, porque Lula tem a preferência do eleitorado, porque ele tem os seus direitos políticos em vigor, mas sobretudo porque ele é o único líder que existe nesse país. Não temos outra liderança. Podemos ter candidatos, bons quadros políticos, mas liderança, que tem a capacidade de conduzir o Brasil na crise, pacificar o país, devolver ao país a sua confiança, não temos, é só Lula.
Aliás, a única forma de barrar a crise e o caos social que estamos vivendo no país é a libertação de Lula. Se tiver um pouco de compaixão pelo povo brasileiro, a elite que prendeu o Lula vai libertá-lo. Ele é a única pessoa com capacidade de fazer a interlocução com o povo brasileiro.
A candidatura do ex-presidente poderia obstaculizar as coligações regionais?
Não acredito. Acho que não tem nada mais forte para um governador do PT, ou de uma base de esquerda, do que o Lula na campanha. Não tem coligação ou aliança que possa suplantar isso. Quem tem voto nesse país, e principalmente no Nordeste, é o Lula.
A pré-candidata Manuela D’Ávila teria sinalizado que poderia abrir mão da candidatura em prol de uma candidatura única do campo da esquerda. E fez uma espécie de chamado aos outros partidos a fazerem o mesmo. Como a senhora responde a esse chamado?
Nós estamos abertos e temos feito esforços concretos no sentido, primeiro, da unidade política, com a formação de uma frente de partidos que já é uma realidade, através das nossas fundações partidárias. Em segundo lugar, temos feito um esforço grande de construir uma unidade eleitoral.
Temos conversado com o PCdoB, com o PSB, com o PDT, e achamos que é muito importante. Mas de todos os candidatos desse arco da esquerda, quem tem mais viabilidade e condições de ganhar as eleições é Lula. Portanto, reafirmamos nossa posição de ter Lula como cabeça de chapa de uma unidade partidária.
Edição: Diego Sartorato