Os protestos contra o reajuste da tarifa do transporte público de São Paulo foram o estopim para um novo modelo de engajamento dos jovens.
A luta para que o valor não mudasse de R$ 3 para R$ 3,20, em junho de 2013, cresceu e ganhou outras reivindicações, apesar da falta de organização política dos protestos.
Cinco anos depois, os impactos das jornadas de junho de 2013 são amplos e seguem complexos de serem dimensionados. No entanto, o que parece claro é que um destes impactos é o aumento da repressão do Estado em relação as manifestações populares, segundo a advogada Camila Marques, coordenadora do Centro de Referência Legal da Artigo 19.
“A gente viu um estado que, absolutamente, não queria ver as pessoas na rua, que absolutamente queria esvaziar as ruas, que absolutamente não sabe lidar com multidões e que, com uma pauta que estava crescendo. Então, a gente vê um estado que, a partir de 2013, logo depois dos primeiros atos, recebe com muita violência. Por conta disso, uma das pautas nos protestos passou a ser a violência policial. Então, o que a gente viu ali, na verdade, foram respostas totalmente abusivas", disse a advogada.
Camila lembra, no entanto, que o Estado, embora tenha sistematizado essa repressão a partir de 2013, sempre teve um papel contrário aos protestos populares.
“Obviamente os protestos no Brasil não começaram em 2013, obviamente a gente tem um quadro de movimentos sociais muito bem organizado, que sempre tiveram sua luta muito bem desenhada, porém, a gente sabe que o estado brasileiro é, historicamente, repressor em relação a esses movimentos sociais. O que aconteceu depois de 2013 foi um cenário em que o Estado pegou todos os instrumentos de repressão que sempre existiram e aprimorou.
Nataly Santiago, militante do Levante Popular da Juventude, destaca que as manifestações de junho de 2013 evidenciaram o protagonismo dos jovens brasileiros e a necessidade dos três poderes de dialogarem com a juventude.
“Uma descrença do sistema político e, ao mesmo tempo que tivemos uma juventude interessada, cada vez mais interessada, a resposta colocada pelo sistema político brasileiro, e até hoje é assim, mas naquele momento principalmente, foi muito latente. Era um sistema que não dialogava com a participação das pessoas e com este interesse da juventude, é uma política que ele excluía de fato”, disse a coordenadora.
As duas concordam que a repressão do Estado, principalmente desde 2013, não ocorre só nas ruas, e que é um engendramento de todos os espaços de poder do Estado. E que esta estratégia de repressão tem se consolidado.
Edição: Juca Guimarães e Tayguara Ribeiro