Com assinantes presentes em 284 municípios do país, o Clube do Livro da editora e livraria Expressão Popular completa um ano neste mês.
Construída pelos movimentos populares desde 1999 e com mais de 500 títulos publicados, o objetivo da editora é estimular a formação política da própria militância.
Carlos Bellé, coordenador da equipe da Expressão Popular, avalia que as principais ideias que motivaram a criação do Clube do Livro há um ano atrás estão sendo alcançadas.
“A primeira delas é estimular o hábito do estudo. A nossa militância tem dificuldade de estudar no livro. Junto com o hábito de estudar, queríamos valorizar o estudo por meio livro para que a gente superasse também a superficialidade das informações que circulam na internet”, explica.
Os assinantes do Clube do Livro recebem mensalmente uma edição de uma obra escolhida pelo conselho editorial da Expressão Popular. O livro de junho, por exemplo, é “Um mundo a construir”, de Marta Harnecker, uma importante marxistas latino-americana que escreve sobre os problemas atuais da esquerda e da luta de classes.
O objetivo de criar reflexões aprofundadas sobre os mais diversos assuntos para que se refletisse em ações direta dos movimentos também está gerando frutos.
“Queríamos criar uma rede de militantes que estudassem o mesmo tema, para que esse tema, no trabalho prático, pudesse se constituir em ideias concretas, materiais, que ajudem a militância a dar uma organicidade aos seus movimentos”, enfatiza Bellé. “Os temas que propomos no Clube do Livro, são temas para que as pessoas aprofundem a possibilidade de mudar. Nós produzimos para a mudança, para a transformação social, essa é a finalidade maior da editora”.
Para Simone Freire, assinante do Clube do Livro, os títulos escolhidos pela Expressão Popular tem a ajudado a compreender melhor os impactos do jogo político da atual conjuntura brasileira. “Eu tenho percebido que receber um livro por mês, mesmo que seja de uma leitura com a qual não estou familiarizada ou de autores que não conheço, me instiga a leitura, a saber mais sobre o tema”, diz Simone. “Acho que isso me ajuda a entender um pouco do todo, do que a gente precisa pensar para entender toda a complexidade da sociedade”.
A avaliação da assinante é a mesma de muitos outros leitores que recebem os livros em suas casas. "Todos os livros que disponibilizamos foram muito bem aceitos. são estudados, trabalhados e estão contribuindo para a formação da militância social. Esse é um balanço extremamente positivo”, comenta o coordenador da editora. “Nós precisamos ampliar. É esse desafio que está sendo colocado agora. Vamos dobrar os leitores até o final do ano”, aposta.
Modalidades de assinatura
Cecília Luedemann, responsável pela divulgação da Expressão Popular, explica que há 3 modalidades de assinatura: Leitor militante, leitor solidário e leitor apoiador.
Com preço mais acessível, a categoria Leitor militante recebe o livro do mês, por R$35. Já o leitor solidário, por R$60, recebe o livro do mês e outra obra publicada pela editora e escolhida por ele. O leitor apoiador, por R$100, também recebe dois títulos como o leitor solidário e o restante da verba é direcionada para a manutenção da Expressão Popular.
Para ajudar na divulgação do Clube do Livro, a equipe está promovendo diversas ações. "Nem todo mundo tem acesso à internet. O trabalhador rural, por exemplo. Então, temos participado de vários eventos, avisamos que estamos presentes, e a pessoa pode fazer o cadastro com a gente durante o evento”, conta Cecília. A equipe esteve presente, por exemplo, na III Feira Nacional da Reforma Agrária e na Jornada da Agroecologia.
Público diverso
O perfil dos assinantes do Clube do Livro, em um primeiro momento, era composto por estudantes, professores e militantes de movimentos populares simpáticos ao projeto editorial da Expressão Popular, mas, felizmente, este perfil está em ampliação.
Pedro Gabriel dos Santos Pereira, responsável por divulgar a campanha de adesão, relata que está acontecendo uma diversificação do público. “Outros perfis de estudantes de outras áreas, como Agroecologia, que não tinham proximidade com movimentos populares, começaram a aderir. Na nossa avaliação, foi graças ao trabalho de base que os movimentos sociais conseguiram fazer, que atingiu esses perfis dispersos na sociedade”.
Ato político-comemorativo
No dia 28 de junho, às 19h, haverá um ato na sede da Expressão Popular, para comemorar o primeiro ano do Clube do Livro, mas que também consistirá em um ato político.
Cecília Luedemann contextualiza que a Expressão Popular foi criada em um período em que o neoliberalismo avançava, durante o governo de Fernando Henrique Cardoso. Os movimentos sentiram a necessidade de uma editora que publicasse os títulos que divulgassem uma visão contra-hegemônica e crítica.
Na análise de Cecília, o cenário se repete após o impeachment e com as políticas do governo federal. “A expectativa é de um grande ato político de apoio à Expressão Popular em seu projeto editorial, e ao Clube do Livro como uma forma de engajamento dos leitores que entendem que é preciso ter o livro como uma ferramenta de estudo para compreender a realidade colocada e transformá-la”, pontua.
Segundo Bellé, o ato político reforçará a importância do estudo e dos ideais progressistas, além de ser um relançamento do Clube do Livro.
A sede da Expressão Popular é na Rua Abolição, nº 201, no bairro da Bela Vista, em São Paulo (SP).
*Com colaboração de José Eduardo Bernardes
Edição: Guilherme Henrique