É preciso também terminar com a farsa da intervenção federal militar
O que aconteceu na comunidade da Maré não pode passar impune. Ou seja, a ação policial militar lá ocorrida é uma demonstração concreta da falência o setor de segurança no Rio de Janeiro e também da inutilidade da intervenção federal militar determinada pelo ocupante do governo, Michel Temer.
As imagens da violência, com um helicóptero atirando contra moradias naquele recanto da cidade, com tanques do Exército dando apoio, não podem passar impunes. Alguém precisa imediatamente ser responsabilizado pelas mortes ocorridas, inclusive do adolescente Marcos Vinícius da Silva, de 14 anos, assassinado com o uniforme escolar quando ia para o colégio. E ele mesmo disse para a mãe, quando estava sendo atendido no hospital, que o tiro foi dado pela polícia. Não é atenuante o fato de as autoridades policiais afirmarem tão somente que os demais seis mortos eram vinculados ao narcotráfico.
É absolutamente necessário apurar quem comandou a operação militar na favela onde residem brasileiros e brasileiras pobres. Se nada for feito ficará ainda mais evidente que as autoridades responsáveis pela segurança agem de forma criminosa nas favelas do Rio de Janeiro.
Não se pode permitir que diariamente ocorram mortes de crianças ou de quem quer que seja e que ninguém seja responsabilizado.
É o caso de se questionar o general Braga Neto, nomeado para dirigir a intervenção federal militar, o que ele tem a dizer sobre o que aconteceu na favela da Maré e em outras áreas pobres da cidade. Não é mais possível continuar o atual estado de coisas em que as chamadas “forças da ordem” ajam de forma totalmente irresponsável e sem serem cobradas pelo que vem acontecendo.
É preciso também terminar com a farsa representada pela desastrosa jogada de marketing que significa o decreto de intervenção federal militar na área de segurança do Rio de Janeiro, que o Ministro da Segurança Pública, Raul Jungmann já propôs prorrogar por mais tempo além de 31 de dezembro próximo.
Na realidade, a operação realizada no Complexo da Maré foi um marco limite pelo que vem sendo feito nas áreas pobres da cidade do Rio de Janeiro.
E se não houver pressão da sociedade civil para por fim a violência, matanças com helicópteros atirando nas casas dos moradores continuarão a ocorrer de forma impune, como se tudo que aconteceu fosse algo normal, como querem as autoridades. E pais seguirão lamentando a morte dos filhos, em uma total irresponsabilidade, que pode não ser considerada como tal pelos responsáveis pela violência e cujas imagens percorrem o mundo, para vergonha da população carioca e brasileira.
Em suma, chegou a hora de acabar de uma vez por todas com a intervenção federal militar e exigir que as autoridades responsáveis pelo setor de segurança encontrem outras formas de combater a criminalidade, porque da forma como vem sendo feito até agora, a ação não é só absolutamente inoperante como também agravou a situação. Esse tipo de combate exige, no mínimo, que o setor de inteligência seja acionado e não continuar a população assistindo truculências diárias como a da Maré.
Edição: Jaqueline Deister