Faltando apenas cinco dias para as eleições mexicanas, o Brasil de Fato foi às ruas da Cidade do México, capital do país, para saber a opinião de quem vai decidir, por meio do voto, o futuro do país. Esta é a primeira vez em 90 anos, que um candidato progressista, como Andrés Manuel López Obrador, do partido Movimento de Regeneração Nacional (Morena), é apontado como o favorito de chegar ao poder com ampla vantagem em relação aos adversários.
Nas últimas nove décadas, o México viveu um verdadeiro revesamento no poder entre dois partidos de centro-direita: o Partido Revolucionário Institucional (PRI), do atual presidente, Enrique Peña Nieto, e o Partido de Ação Nacional (PAN), que atualmente está em segundo lugar nas pesquisas eleitorais, com o candidato Ricardo Anaya Cortés. Já o candidato do PRI nestas eleições, Antonio Meade Kuribreña, aparece em terceiro lugar.
O clima geral entre os eleitores mexicanos é de descontentamento com a atual situação econômica do país, mas também de esperança. Querem mudança, ver o país em alta, melhores trabalhos e oportunidades, aposentadoria digna e respeito à população mais pobre. Eles esperam que o próximo presidente mude para melhor a vida dos trabalhadores, estudantes, camponeses, indígenas e da sociedade como um todo.
A expectativa de mudanças para melhor é o que espera o comerciário Juan Pablo Mendonza (foto acima), 56 anos, um dos 86 milhões de mexicanos aptos a votar no dia 1º de julho. Ele diz que não abrirá mão de seu direito ao voto. “Como mexicano, uma das obrigações que temos é eleger as pessoas que serão responsáveis por governar. Eu nunca deixo de votar”, afirma Mendonza, funcionário de uma ótica no centro da capital mexicana.
O vendedor afirma ainda que não está satisfeito com o atual governo e quer que as coisas melhorem. “O próximo presidente precisa tomar as rédeas do país. Sinto que as coisas vão muito mal, isso tem que melhorar. Estou seguro que não vamos despertar de um dia para o outro com os problemas solucionados, é um trabalho que leva tempo. Mas espero que a pessoa que seja eleita faça bem o seu trabalho”, opina.
Já a universitária Karen Armendares (foto acima), 18 anos, estudante de engenharia geofísica, diz que não sabe ainda se vai exercer seu direito ao voto. “Não sei se vou votar, porque os candidatos que representam os partidos não me convencem, devido à má fama e alguns escândalos. E outros não têm os recursos para conseguir fazer o que querem fazer quando chegarem à presidência”, avalia.
As denúncias de fraude eleitoral, sobretudo nos últimos dois processos, fazem pessoas como Karen duvidar da legitimidade das eleições. Ainda assim, ela tem esperança de que as coisas vão melhorar. “Espero que melhore a economia mexicana, que algum dia possamos ser um país de primeiro mundo. Sei que falta muito para isso, mas espero que o próximo presidente mude de verdade a política e a economia, que dê oportunidade aos jovens”, afirma.
A vendedora ambulante Marta Vegas Hérnandez (foto acima), 67 anos, ganha a vida vendendo balas e biscoitos na rua, apesar de andar com dificuldade em função de problemas na coluna. Seu voto é um voto indignado. “Temos que votar. O direito de votar me pertence como mexicana. Não creio que as coisas vão mudar muito, mas, pelo menos, que melhore um pouco. Se o PRI não estivesse no poder há tantos anos, você acha que estaríamos assim?”, questiona a idosa, que até hoje não conseguiu se aposentar. Marta conta que trabalhou sua vida inteira como camponesa. Plantava milho, trigo, feijão, frutas e verduras; até que um problema em três vértebras da coluna a fez abandonar o trabalho.
Apesar de não receber assistência do Estado mexicano, Marta espera que as coisas melhorem e que seu voto faça a diferença. “Somos os pobres, os que colocamos os políticos no poder, e até o presidente. Por isso vou votar. Vou votar contra a pobreza em que estamos, contra a discriminação em relação aos deficientes. Por não ter nascido aqui, na Cidade do México, me negam o direito à aposentadoria”, explica.
No México, o voto não é obrigatório, mas a média de participação é de 63% do eleitorado, o que é considerada alta se comparada com a de outros países das Américas, como Estados Unidos, Colômbia e Chile, onde o voto também é optativo.
Edição: Vivian Neves Fernandes