O encerramento da campanha do candidato progressista Andrés Manuel López Obrador, do partido Movimento de Regeneração Nacional (Morena), confirmou seu favoritismo na eleição presidencial do México, no próximo domingo (1°). Em um evento massivo, poucas vezes visto na política mexicana, realizado na noite dessa quarta-feira (27), no estádio Azteca, meca do futebol no país, o candidato falou para um público de 80 mil pessoas. "Se o que está acontecendo hoje no México não for o movimento político mais importante do mundo, é um dos mais importantes", disse.
Em seu discurso, Obrador anunciou as principais linhas do seu governo, caso seja eleito. Começou dialogando com o campo político da esquerda, de quem é mais próximo. "Buscaremos empreender uma transformação pacífica e ordenada, sim, mas não menos profunda que a luta pela independência, a reforma e a revolução. Não fizemos todo esse esforço por meras mudanças domésticas, superficiais, e muito menos para nos conformar com mais do mesmo. A quarta transformação será pacífica, mas radical", declarou.
Apesar do tom radicalizado, Obrador não deixou de acenar também aos liberais: "[No meu governo] haverá um autêntico Estado de direito, sob a premissa liberal de que nada será feito à margem da lei e por cima da lei. Seremos respeitosos com a divisão dos poderes e a soberania dos estados e municípios. Haverá pleno respeito pelas manifestações das ideias, pelas liberdades civis e religiosas e será garantido o direito a discordar".
Esta é terceira vez que Obrador concorre às eleições presidenciais. Neste ano, ele chega com uma vantagem de 20 pontos sobre o segundo colocado nas pesquisas eleitorais, o candidato Ricardo Anaya, do Partido de Ação Nacional (PAN), de centro-direita.
O seu encerramento de campanha era para ser um final mais simples, no centro da Cidade do México. O partido Morena, do candidato López Obrador, planejava um evento na histórica Praça Zócalo, cercada de museus e história, como foi sua campanha em 2012. Mas o governador do Distrito Capital, José Ramón Amieva, do Partido de Ação Nacional (PAN), não permitiu. A justificativa era que o local receberia uma estrutura para abrigar os torcedores da Copa do Mundo, com telões e uma praça de alimentação. Para simpatizantes e eleitores de Obrador, o desafio havia sido lançado. Decidiram, então, ocupar o maior símbolo do futebol mexicano.
Mexicanos querem mudança
Três horas antes de começar o evento, o estádio Azteca estava lotado. Do lado de fora, a equipe de Obrador instalou telões pelos quais o público também podia acompanhar o encerramento da campanha. Obrador entrou no estádio por volta das 20h, através um corredor que passava no meio do público. Visivelmente emocionado, foi recebido com palavras de ordem que diziam: “¡Es un honor, estar con Obrador!” (É uma honra estar com Obrador!).
Logo na entrada do estádio, a percepção era de que a maior parte do público não era de militantes tradicionais, como em outras campanhas, mas de gente comum, como a dona de casa Patricia Godoy, de 60 anos, que queria ver Obrador falar. "Agora é diferente porque as pessoas estão cansadas das mentiras dos governos do PRI [Partido Revolucionário Institucional] e do PAN, que não fizeram nada pelo país. O México está cada vez pior, estão vendendo tudo o que é da nação. Temos a confiança de que López Obrador é quem vai nos livrar de tudo isso", destacou.
O camponês Oscar Juarez, de 53 anos, também tem esperança que as coisas mudem. "Obrador é a única opção que temos para poder reverter as reformas, como a energética [que privatizou o setor elétrico e abriu o mercado petroleiro para empresas estrangeiras]. Essas reformas afetaram muito a vida dos camponeses e de todos os mexicanos, pois assaltam o nosso dinheiro. Esperamos que Obrador renacionalize o petróleo, pois esse potencial econômico é do México".
Assim como Oscar, o jovem estudante Yair Oliveira, de 23 anos, quer mudanças. "Temos confiança de que esse presidente possa transformar o México, fazer com que o país tenha uma melhor economia. Tirar esse governo que já leva vários anos. Obrador promete ajudar às pessoas que mais necessitam, os pobres, humildes. Ele se foca nisso, em nos apoiar, os que vêm de baixo. Ele quer que todos sejamos iguais, com acesso às mesmas oportunidades. Como jovem posso ter maior apoio, talvez terminar minha universidade e ter um trabalho onde me pagem bem", acredita.
Principais propostas
E foi para esse público que quer transformação que Obrador direcionou sua campanha e também seu discurso na noite dessa quarta-feira. "Sou um candidato com mais idade, mas os jovens, com sua imaginação e rebeldia, sabem que representamos o novo, a modernidade forjada desde baixo e para todos", disse.
O candidato afirmou ainda que seu governo estará comprometido com a geração de empregos, com a melhoria da qualidade de vida da classe mais pobre, com a distribuição de renda, com a produção de alimentos, com a economia nacional e com respeito mútuo entre as nações.
Disse que combaterá a violência que assola o país. "Não podemos permanecer indiferentes quando estão cometendo 89 homicídios diários. O saldo de violência nos últimos tempos é terrível. Desde o início do governo de Felipe Calderón [2006] até hoje foram assassinadas mais de 230 mil pessoas, segundo dados oficiais".
Informou também que a sua política de segurança será definida depois de dialogar com os diferente setores da sociedade afetados pela violência. "A política de segurança será definida depois de escutar os familiares das vítimas, os defensores de direitos humanos, religiosos, representantes da ONU e de organizações sociais, assim como especialistas, para analisar as alternativas".
Além disso, prometeu leis mais duras contra crimes eleitorais e a corrupção. No entanto, para Obrador, a primeira tarefa é garantir que o processo eleitoral do próximo domingo seja limpo, transparente e sem fraude. Assim, convocou os eleitores a sair cedo para votar, de forma massiva, mas também cuidar das urnas eleitorais para impedir a manipulação e a fraude. Nos últimos dois processos eleitorais, em 2006 e 2012, houve denúncias graves de fraude eleitoral.
Edição: Vivian Neves Fernandes