O vice-presidente dos Estados Unidos (EUA), Mike Pence, defendeu na semana passada, durante sua visita ao Brasil, uma política de "tolerância zero" contra a imigração ilegal para o seu país. Ao lado do presidente Michel Temer (MDB), em pleno Palácio do Itamaraty, Pence subiu o tom contra a imigração latino-americana.
“Assim como os EUA respeitam suas fronteiras e soberania, peço que respeitem a nossa. Como diz o presidente Donald Trump, sem fronteiras não há país”, afirmou, fazendo referência específica a países da América Central, como El Salvador, Honduras e Guatemala.
De acordo com Pence, o fluxo de imigrantes ilegais oriundos desses países para os EUA foi de cerca de 150 mil pessoas nos últimos meses. Ele citou que o governo está empenhado na construção de um muro na fronteira do país com o México e que o Congresso dos EUA trabalha para “fechar os hiatos [legais] que ainda servem como atração às famílias vulneráveis”.
“Se não tem condições de entrar legalmente, não venham”, bradou o vice estadunidense. Apesar do discurso duro contra a população latino-americana em pleno território brasileiro, Temer não tocou no assunto durante seu discurso.
Para Marcelo Zero, sociólogo e especialista em Relações Internacionais, a postura do atual governo é de realinhamento e submissão à política externa estadunidense. É uma política, segundo ele, totalmente diferente da que foi adotada nos governos do PT, quando o Brasil tinha uma postura de aproximação mais abrangente, atuando diretamente com outras potências como China, Rússia, África do Sul e Índia, no grupo chamado BRICS, além de uma relação mais próxima com países vizinhos sul-americanos.
“O sub Pence visitou-nos para nos esculachar. Sequer se preocupou em respeitar a prática diplomática universal de fazer cobranças em privado e elogios em público. Não. Num discurso inacreditável, feito em pleno Palácio do Itamaraty, em plena casa do Rio Branco, o sub esfregou na cara de Temer uma ação mais efetiva contra a Venezuela. Com mais de 50 crianças brasileiras presas em masmorras norte-americanas, sequer teve a decência de se desculpar pela prática nazista. Ao contrário, fez ameaças claras contra países que não respeitam as fronteiras dos EUA. O Golpe fez a opção de retroceder a uma política externa passiva e submissa, que nos colocou na órbita estratégica dos EUA. O Golpe fez a opção de tornar o Brasil um cão vira-lata”, disse.
Crianças retidas
Segundo o próprio governo federal, pelo menos 51 crianças brasileiras estão retidas em abrigos dos EUA, separadas dos próprios pais, ao tentarem entrar ilegalmente no país pela fronteira com o México. Apesar de ter pedido ao vice dos EUA autorização para envio de uma aeronave brasileira buscar as crianças no país, Michel Temer não recebeu resposta definitiva. O tema será debatido com as próprias famílias dos menores detidos.
Venezuela
Mike Pence também esbravejou contra a Venezuela e pediu mais apoio do Brasil para sanções contra o país. Os EUA não aceitam a reeleição de
Nicolás Maduro, em maio, quando obteve 68% dos votos válidos (mais de 5,8 milhões de votos).
Segundo o governo norte-americano e diversos outros países, não teria havido “legitimidade democrática” nas eleições venezuelanas. Apesar do
discurso, as próprias eleições nos Estados Unidos, em 2016, que levaram ao poder Donald Trump e seu vice Pence, permanecem sob suspeita. A atuação do Facebook e de uma agência de coleta de dados (Cambridge Analytica) teria influenciado a opinião de eleitores, a partir da coleta ilegal de dados e da construção de falsos perfis. Esses eleitores podem terdecidido mudar os votos (ou terem deixado de votar) na última hora, dando a vitória a Trump. O caso é investigado na própria Justiça dos EUA.
*Com informações da Agência Brasil.
Edição: Simone Freire