Dois relatórios divulgados neste ano captam o cenário de desigualdade da Índia moderna. Um aponta que, em 2017, o número de milionários do país – indivíduos com riqueza superior a 1 milhão de dólares – cresceu 20%, assim como a riqueza deles. O outro documento, publicado no início deste ano, indica que 73% da riqueza gerada entre 2016 e 2017 foi para a parcela 1% mais rica da sociedade, enquanto 670 milhões de indianos – que compõem metade da população do país – registraram um aumento ínfimo de 1% em sua riqueza.
O fato de que esses dados estão em dois relatórios distintos – um sobre os ricos e outro sobre os pobres –, por si só, já revela a profunda desigualdade da Índia. Mas, para além disso, é possível analisar o significado do que os estudos apontam.
O relatório sobre os milionários faz parte de uma série de documentos semelhantes, repletos de dados, divulgados por instituições financeiras internacionais, sendo o mais recente elaborado pela consultoria francesa Capgemini. O cálculo dos milionários é feito com base no valor do patrimônio e no número de propriedades de cada indivíduo. Em 2016, eram 219 mil milionários na Índia, número que aumentou para 263 mil em 2017, segundo o relatório.
Esse resultado se deu porque a capitalização do mercado (valor de mercado das ações) aumentou 50%, enquanto o preço dos imóveis subiu cerca de 5%, contribuindo para o aumento da riqueza. Impulsionada por esses fatores, somado à renda que continua alta, a riqueza total desses milionários passou de US$ 1 trilhão em 2017.
Outro relatório referente a 2017, elaborado pelo instituto de pesquisa do banco de investimentos suíço Credit Suisse, revelou que cerca de 73% da riqueza total acumulada da Índia está nas mãos dos 10% mais ricos da população. E, dentro dessa faixa, o 1% mais rico do país detém surpreendentes 45%.
Desigualdade de renda
No entanto, outros relatórios, incluindo o da Oxfam – organização que atua na busca de soluções para o problema da pobreza e da injustiça pelo mundo –, revelam que existe uma desigualdade parecida também em termos de renda.
A parcela 1% mais rica da população concentrou 73% da renda gerada em 2016 e 2017, o que significa que a riqueza desses indivíduos cresceu mais de US$ 300 bilhões. O valor é equivalente ao orçamento total do governo indiano para 2017 e 2018.
Observando dados ao longo dos anos, há uma tendência bastante reveladora. Uma análise mostrou que, desde o início da liberalização econômica da Índia, a desigualdade de renda no país cresceu vertiginosamente.
Entre 1988 e 2011, a renda dos 10% mais pobres do país cresceu 1% por ano, enquanto a renda dos 10% mais ricos aumentou 25% anualmente.
O economista francês Thomas Piketty e outros pesquisadores do World Inequality Lab (Laboratório das Desigualdades Mundiais) demonstraram que, de cerca de 36% da renda nacional em 1980, os 10% mais ricos da Índia aumentaram sua fatia para mais de 50% em 2014. E, desde os anos 2000, esse aumento tem acontecido em um ritmo ainda mais acelerado.
Vídeo
O NewsClick, parceiro do Brasil de Fato na Índia, produziu um vídeo que explica as desigualdades na Índia. Assista à matéria abaixo. Para ativar as legendas em português, clique no ícone de "Legendas/Legendas Ocultas" no canto inferior direito do vídeo.
Edição: NewsClick | Tradução: Aline Scátola