A cobertura da grande mídia em relação ao não cumprimento da liminar que concedeu liberdade ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva não foi objetiva e demonstrou que sua atuação está ligada a interesses políticos. Esta é a avaliação de dois especialistas em comunicação procurados pelo Brasil de Fato.
Um dos principais pontos foram os discursos veiculados na grande imprensa sobre a decisão do desembargador federa Rogério Favreto, do Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4), responsável pela ordem de soltura no domingo (8), carregados de comentários e análises com o intuito de deslegitimar o magistrado diante da opinião pública.
Se, de um lado, se trata de estratégia histórica dos meios de comunicação hegemônicos, de outro, também revelou o desespero da grande imprensa no caso específico. É o que pontua o jornalista, sociólogo e professor aposentado da Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP) Laurindo Lalo Leal Filho.
“Não fizeram nada mais do que fazem normalmente, no entanto, diante da situação inesperada acabaram exasperados. Nós percebíamos o desespero desses meios de comunicação em deslegitimar a ação do desembargador. Isso foi na GloboNews e isso se repercutiu hoje (9) nos principais jornais brasileiros da dita grande imprensa”, avaliou.
Em relação à GloboNews, Leal observou que as fontes entrevistadas apresentavam discursos parciais. Uma exceção destaca por ele na cobertura de domingo, foi a Rádio Guaíba, do Rio Grande do Sul, que chegou a entrevistar Favreto em meio a sua programação.
Renata Miele, coordenadora nacional do Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação (FNDC), acompanhou a repercussão do caso pelos programação da Globo e Band News. Ela destaca que a própria situação de não cumprimento da decisão judicial, combinada à cobertura midiática, pode ter gerado mais confusão do que informação entre ouvintes e espectadores.
“O que aconteceu no dia de ontem gera perplexidade por parte das pessoas que se veem diante de um sistema de Justiça que não tem qualquer regra de funcionamento, se não tem regra de funcionamento para um ex-presidente da república imagina para um cidadão comum. Fica muito claro a politização do sistema Judiciário, a parcialidade dos meios de comunicação e o esfacelamento da institucionalidade no Brasil”.
Saldo positivo
Leal resume a questão afirmando que grande mídia se viu “diante de uma ação judicial legítima e passaram a contestá-la se baseando em informações desencontradas e facciosas”. Um dos maiores exemplos, para ele, foi a defesa do despacho de Moro, juiz de primeira instância, contestando Favreto.
“Como a mídia pode defender isso? Isso é uma coisa indefensável. Ela escancara toda a sua relação com os interesses mais escusos e mais espúrios desse jogo político que tenta impedir a participação do presidente Lula nas eleições de outubro”, critica.
Mesmo que a liminar favorável a Lula não tenha sido cumprida, o sociólogo avalia como positiva a iniciativa de parlamentares do PT, que teria demonstrado que a condenação e prisão de Lula “são insustentáveis e a cada ataque desses faz com que o presidente Lula tenha mais respaldo na sociedade, como mostram as pesquisas”.
Edição: Rafael Tatemoto