O curta-metragem “Dor Invisível”, feito por estudantes da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), trata de um tema que já atravessou a vida dos quatro idealizadores do filme – Débora Borba, Lucas Orsini, Keinny Junior e Rosy Ribeiro. Eles apresentaram um pouco sobre a empreitada de sua primeira experiência cinematográfica após o lançamento do projeto, na semana passada, na universidade.
Apenas no curso de Artes Visuais da UFU, foram registrados dois casos de suicídio em 2016, o que motivou os jovens a debaterem mais profundamente o tema. Na opinião dos alunos, a universidade cria “estressores”, ou seja, fomenta ansiedades que agravam o sofrimento mental dos estudantes. Eles avaliam como insuficiente o apoio psicopedagógico oferecido pela instituição, o que leva a uma grande invisibilização do assunto.
Além disso, atribuem a elevada incidência de sofrimento mental às contradições do sistema vigente. “Nossas doenças estão ligadas ao mundo capitalista em que a gente vive”, resume Débora Borba, estudante de Ciências Sociais e responsável pela Direção de Arte de “Dor Invisível”. E por isso, para ela “a arte tem que ter um tom crítico”.
A plateia também parece concordar com a ideia de que a arte, principalmente quando crítica e reflexiva, pode ser um meio de superação das dores psíquicas. “Através da arte a gente projeta a dor que sente. Fazemos isso pra salvar a nossa vida”, diz Cleiton Custódio, estudante de Artes Visuais que interpreta um dos personagens do filme.
Dificuldades financeiras
Quando questionados sobre os principais obstáculos encontrados no processo de tornar a ideia de “Dor Invisível” uma realidade, os quatro estudantes respondem sem titubear: o dinheiro.
Débora conta sobre suas reflexões no momento em que foi convidada para compor a equipe do filme: “Como eu vou fazer Direção de Arte sem um puto no bolso?”.
O filme foi feito sem contar com nenhum recurso prévio, com muita criatividade e improviso, apoio voluntário de amigos e familiares.
Em 2017, o curta foi um dos beneficiados pelo PIAC, Programa Institucional de Apoio à Cultura. Keinny, estudante de Artes e responsável pela montagem, esclarece que o PIAC trabalha através do reembolso posterior dos gastos comprovados e se trata de um único edital geral que se aplica às diversas formas de arte e cultura, tendo como foco a promoção de palestras e simpósios. Na opinião dele, editais específicos para as diferentes linguagens artísticas e focados na produção cultural poderiam trazer benefícios.
Ainda assim, os estudantes consideram que o PIAC é muito importante para a cultura na universidade e para proporcionar aos estudantes das artes o exercício prático das teorias aprendidas em salas de aula, e por isso deveria ser ampliado e mais divulgado.
Apesar de todas as dificuldades, os quatro novos cineastas se mostram satisfeitos e abrem grandes sorrisos ao receber os aplausos da plateia, que se vê representada pelo tema proposto pelo filme. “Dor Invisível” parece cumprir seu papel de combater a invisibilidade do debate da depressão e do suicídio na Universidade.
Edição: Joana Tavares