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Quem "bate o pio" joga pelo time invencível

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"Já vestindo a camisa cedida por um atacante substituído por ele, Ernesto entregou o apito ao seu compadre"
"Já vestindo a camisa cedida por um atacante substituído por ele, Ernesto entregou o apito ao seu compadre" - Pixabay
Um a zero para o time do Córrego Cavalo, invencível jogando em casa

Estou numa fase de lembranças relacionadas ao futebol. Uma delas me remete a um time de um bairro rural da minha terra, o Córrego Cavalo, que nunca perdia jogando em casa. 

A inauguração de um campo novo naquele bairro foi muito festiva. Chamaram até um time da cidade pra jogar lá. Quem ia “bater o piu”, quer dizer, apitar o jogo, era o Ernesto, que fez um longo discurso antes, dizendo ser imparcial, o que não convenceu ninguém.

Estava difícil fazer o time da casa ganhar, o adversário jogava muito melhor. A certa altura, o baixinho Parafuso pegou a bola na ponta direita, driblou dois zagueiros do Córrego Cavalo e centrou. 

O ponta esquerda Luizinho do Lica entrou de cabeça pelo meio e marcou um gol para o time da cidade, quer dizer, o adversário do Córrego Cavalo. Gol anulado, claro.

O juiz deu bronca no jogador que marcou o gol, deu falta contra ele e disse:

— Nóis é da roça mas sabe as regras. Ponta esquerda tem que jogar na ponta esquerda, na extrema. O que é que ocê tava fazendo no lugar do centroavante? 

Pouco depois, sobrou uma bola pingando para o centroavante Zé do Gato, que deu um chutaço a gol. O goleiro do Córrego Cavalo nem viu a cor da bola. Só que o gol não tinha rede e a bola, a meia altura, bateu de cheio na cara do Zé Soldado, da gloriosa Polícia Militar, que assistia ao jogo atrás do gol, derrubando-o de costas. Ernesto, logicamente, anulou, apitando falta do atacante:

— Desacato a autoridade — gritou bravo, ameaçando Zé do Gato de expulsão, se ele fizesse isso de novo.

Faltando uns dez minutos para terminar o jogo, mantido zero a zero até então com muita dificuldade, finalmente o ataque do Córrego Cavalo chegou à área adversária, mas o meia Zaqueu tropeçou e caiu na hora de chutar. Pronto! Pênalti, apitou o Ernesto. Quem foi bater? O próprio Zaqueu? Não!

— Eu apitei pra mim batê, uai — falou o Ernesto.

Já vestindo a camisa cedida por um atacante substituído por ele, Ernesto entregou o apito ao seu compadre Orlando:

— Cumpadre, bate o piu nesse restinho de jogo que agora eu sô jogador.

Bateu o pênalti e marcou. 

Um a zero para o time do Córrego Cavalo, invencível jogando em casa.

Edição: Daniela Stefano