Os seis militantes de movimentos populares que estão em greve de fome em Brasília entraram no quarto dia de jejum nesta sexta-feira (3). Entre as causas defendidas pelos trabalhadores no ato político permanente, está a denúncia sobre a possibilidade de o Brasil retornar ao Mapa da Fome, elaborado pela Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO).
“A população brasileira está voltando a uma situação de fome, de miséria que já era coisa do passado. É uma situação alarmante porque isso tende a avançar”, afirma o grevista Jaime Amorim.
Integrante do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), ele compõe o grupo da greve juntamente com militantes do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA) e da Central de Movimentos Populares (CMP). A iniciativa resulta de uma articulação conjunta com outros segmentos sociais.
A preocupação dos grevistas com a fome tem referência nos últimos dados publicados no país a respeito do avanço da miséria.
Dados divulgados recentemente pela ONG ActionAid Brasil e pelo Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (Ibase) mostram que a fome cresceu, atingindo atualmente 11,7 milhões de pessoas no Brasil. O número representa 5,6% da população. O levantamento se baseia em dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Com os atuais índices de desemprego, pobreza e cortes em investimentos de políticas públicas sociais, especialistas temem que o país retorne ao Mapa, que deve ter uma nova edição publicada em breve.
O estudo, realizado pela FAO desde 1990, compila e analisa dados sobre a segurança alimentar da população em todo o mundo, listando especificamente os países que têm mais de 5% dos habitantes subalimentados.
O Brasil havia saído do Mapa em 2014, quando as pessoas que ingeriam menos calorias do que o recomendável representavam 3% da população.
A grevista Rafaela Alves, do MPA, ressalta que os segmentos populares cultivam grande preocupação com o tema e decidiram colocar a questão na pauta da greve como forma de denunciar os retrocessos na área social.
Ela destaca a importância da greve como incentivador do debate sobre o direito à alimentação.
“A nossa tarefa é lutar. Não nos deixaram outro caminho. E lutamos, fazemos greve de fome hoje por opção, por consciência, pra que amanhã muitos outros trabalhadores não passem fome por falta de opção”, afirma.
A denúncia sobre o avanço da fome é um dos pontos do manifestado intitulado “Greve de fome por justiça no STF”, que foi protocolado pelos movimentos populares no Supremo na ultima terça (31), durante a deflagração da greve.
Edição: Diego Sartorato